11/05/2011

China e Índia, dois modelos

Mauricio Santoro. Artigo tirado de aqui. Amartya Sen foi Nóbel e refere-se no artido citado as capacidades dos novos estados emergentes no caos sistémico em que actualmente se topa o IV sistema-mundo capitalista.

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China e Índia são potências ascendentes e duas das mais impressionantes histórias de sucesso do mundo pós-Guerra Fria. Ambas têm culturas milenares, mas sistemas políticos muito diferentes, com o contraste entre a ditadura chinesa e a democracia indiana quase sem interrupções desde a independência em 1947. Por isso é um deleite ler o artigo do economista Amartya Sen, na New York Review of Books, comparando a qualidade de vida nas duas nações. As estatísticas favorecem a China, mas ele afirma que elas não contam tudo e que é preciso olharmos para as questões políticas. Sen é indiano e recebeu o Nobel por seus estudos que destacam exatamente a importância dos fatores não-econômicos para o desenvolvimento.

Comecemos pelos dados básicos. A China tem um PIB maior e cresce mais rápido e seus indicadores para expectativa de vida, alfabetização, anos de educação, mortalidade infantil são bem melhores do que os da Índia. Na realidade, em alguns quesitos os indianos ficam atrás do vizinho Bangladesh, que é mais pobre, mas tem melhores políticas sociais e discrimina menos as mulheres.

O ponto forte da qualidade de vida na Índia é a existência das liberdades civis e políticas básicas. Democracia, livre opinião e associação. Os primeiros trabalhos de destaque de Sen como economista argumentavam que essas condições explicavam por que não houve fomes massivas com milhões de mortos no país após a independência, ao contrário das diversas mortandades que ocorreram no período colonial e de tragédias semelhantes na China comunista, em ocasiões como o “Grande Salto Adiante” de Mao Tse-Tung. Para Sen, governos autoritários não conseguem lidar com fome porque lhes faltam informações adequadas para mensurar o problema, seus funcionários mentem para os superiores e não há outros atores (imprensa, partidos de oposição, movimentos cidadãos) para fornecer dados que contrariem a versão oficial.
 
Ele leva o argumento mais longe, defendendo o primado da democracia como melhor instrumento de política social, por ser mais sensível às demandas populares. Faz sentido – basta olhar, por exemplo, a experiência da América Latina ou de países como a África do Sul – mas com cautelas. Como Sen mostra no artigo, a ditadura chinesa tem melhor saúde pública do que a democracia indiana, embora o primeiro país tenha medidas muito mais instáveis nesse campo, e o segundo apresente uma curva ascendente de acesso à medicina.

A questão é que democracias e ditaduras têm muitas maneiras de se manifestarem, um amplo conjunto de instituições, práticas e modos de organização do Estado. O regime político indiano é permeado por muito autoritarismo, nos preconceitos de casta, violência religiosa e na longa insurreição maoísta dos naxalitas. Os efeitos do Estado chinês também variam bastante entre cidade e campo, entre a etnia han e as minorias no Tibete e Xinjiang, ou na ação dos governos subnacionais, com as administrações mais competentes no sul.

Sen foi um dos criadores do Índice de Desenvolvimento Humano, que além de levar em conta a renda, aborda temas sociais como educação e expectativa de vida. Muitos novos indicadores procuram mensurar outros aspectos fundamentais, como meio ambiente saudável e há até o esforço para tentar medir a felicidade. Este é um debate importante não apenas para China e Índia, mas também para o Brasil, pela busca de modelo de desenvolvimento sintonizado com o século XXI, porque a importância crescente da exportação de commodities na economia brasileira conduz a discussões que são regressivas em termos dos direitos existentes hoje no país.

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