21/11/2011

As eleições do 20-n: dados e breves impressões

Antom Fente Parada.

O jornal Público escolhia hoje o cabeçalho "Derecha absoluta... debacle socialista" enquanto La Voz de Galicia apostava por "Histórico Rajoy". Após a jornada de ontem o Congresso fica com a seguinte composição (99'52% do escrutínio): 

Partido Popular: 10.774.376 votos (44'60%) e 186 deputados (+32 com respeito a 2008, com 10.278.010 votos, 39'94%).

PSOE: 6.940.554 votos (28'73%) e 110 deputados (-59 deputados com respeito a 2008, com 11.289.335 votos, 43'87%).

CiU: 1.010.803 votos (4'18%) e 16 deputados (+6 deputados com respeito a 2008, com 779.425 votos, 3'03%).

Esquerda Unida-Iniciativa Per Catalunya: 1.674.340 votos (6'93%) e 11 deputados (+9 deputados do que em 2008, quando receberam 969.946 votos, 3'77%).

Amaiur: 333.592 votos (1'38%) e 7 deputados.

PNV: 323.517 vostos (1'33%) e 5 deputados (-1 deputado do que em 2008 com 306.079 votos e 1'19%).

UPyD: 1.135.707 votos (4'70%) e 5 deputados (+4 deputados do que em 2008 com 306.079 votos, 1'19%).

ERC: 255.503 votos (1'05%) e 3 deputados (= do que em 2008 com 298.139, 1'16%).

Coalición Canaria-NC-PNC: 141. 774 votos 0'58%) e 2 deputados (= do que em 2008 com 174.629 votos, 0'68%).

BNG: 178. 588 votos (0'73) e 2 deputados (= do que em 2008 com 212.543 votos, 0'83%).

Compromís-Equo: 125.110 votos (0'51%) e  1 deputado (em 2008 29.760 votos, 0'12%).

Foro Asturias: 99.131 votos (0'41%) e  1 deputado.

Geroa Bai: 42.372 votos (0'17%) e 1 deputado. Em 2008 com Nafarroa Bai 62.398 votos e 0'24%.

Alguns extraparlamentares
Equo: 214.638 votos (0'88%)
Escano em branco: 97.351 votos (0'40%).
Esquerda Anticapitalista: 24.368 votos (0'10%).

Abstenção: 28'31% (26'15% em 2008).
Brancos: 1'37% (1'11% em 2008).
Nulo: 1'29% (0'64% em 2008).

Análise estatal

Com estes dados o PP alcança o melhor resultado da sua história, superando em 3 deputados os 183 da maioria absoluta de Aznar em 2000 e com o 44'6% dos votos. Ainda assim, cumpre fazer ver que o suposto "arrase" do PP é mais bem uma reedição dos seus resultados em 2008 e quem perde as eleiçoes realmente é o PSOE que deixa pelo caminho quase a metade dos apoios recebidos em 2008 e um lanho quiçá já irrecuperável no bipartidismo da II Restauração bourbónica. O PSOE colheita assim os resultados piores em número de escanos e percentagem de voto do que em 1977 (118 escanos, 29'3% do voto, 5.370.000 votos). 

Agora sim, PP, PSOE e CiU conformam o grande bloco ultraliberal e somam 212 deputados aos que lhe cumpriria engadir ainda os de UPyD (217 de 250 deputados). Em nossa opiniom a hegemonia ultraliberal tocou teito e os duros "ajustes" marcarao o princípio do fim. UPyD, no entanto, não consegue grupo parlamentar próprio ao ficar com 4 deputados se bem já nao é apenas um partido madrileno e ergue-se como uma série ameaça para grande parte do eleitorado tradicional do PSOE sem afectar ao PP que está situado mais nas suas coordenadas ideológicas. Ynestrillas, Falange e toda a extrema-direita espanhola podem celebrá-lo: 4'71% dos votos, mais dum milhão. Em Madrid passou por cima até de Esquerda Unida colheitando 10'29% dos votos.

Coalición Canaria consegue dous deputados por Tenerife e aumenta o número de votos recebidos enquanto Foro Asturias consegue apenas um deputado e nenhum por Madrid com fuga de votos para o PP.

Esquerda Unida-Iniciativa per Catalunya consegue 11 escanos e 6'93% dos votos, o melhor resultado desde 1996 e com um Cayo Lara que nem de longe tem o carisma de Anguita. Em 1996 alcançara 21 escanos e 10'5% dos votos. Ou seja, EU repunta cando o PSOE se esfarela e coincidindo com a entrada de governos do PP. Esta volatilidade de voto apresenta um repto muito grande para a esquerda espanhola se bem desta volta a caída livre do PSOE e o esfarelamento provável do mesmo em lutas internas semelham dar aços a EU. Nestes comícios aumentaram quase 50% os apoios ampliando a representação em Madrid e Barcelona, colheitando em Asturies os seus melhores resultados (+13% do voto emitido) e com bons resultados em Sevilha, Málaga, Valência e Zaragoza (onde o escano pertence a Chunta Aragonesista que ia em coligação).

Equo supera os 200.000 votos. A aliança de 35 partidos verdes olha como o seu líder Juan López de Uralde não tira escano por Madrid. O escano de Valência é enganoso já que lá iam de parceiros de Compromís e o eleito, Joan Baldovi, é militante do Bloc Nacionalista Valencià.

A crise varreu todos os governos europeus (agás os conservadores suecos que paliaram a sua baixada com um pacto com a extrema direita "Democratas de Suécia"). A queda do social-liberalismo em que derivou a antiga socialdemocracia é total. Apenas fica o centro-esquerda em Dinamarca após a vitória nos comícios de Helle Thorning-Schmit. É previsível também um governo do PS na França e a perda de votos da CDU de Angela Merkel.

Em definitiva, são não muito boas notícias para o establishment se bem o PSOE ainda se mantém por cima dos 100 escanos e as restantes formações ficam muito longe dos dous gigantes. Contudo, convém  recordar que nos aproximamos, em minha opinião, a um cenário social, político e económico como o grego e aí por vez primeira semelha que o bipartidismo (que antes recolhia mais de 80% do voto) se esborralha imparavelmente e nom alcançará 40% dos sufrágios a pesar da potentíssima maquinaria eleitoral do PASOK (o PSOE grego) e Nova Democracia (o PP heleno) [1]. 

Euskal Herria

Amaiur a coligação de EA, Aralar e Alternatiba consegue seis deputados por Euzkadi e um mais por Nafarroa conseguindo o maior número de escanos de Euzkadi e capitalizando o fim de ETA para além de constituir a maior aliança de abertzale formada na II Restauração bourbónica. Cumpre lembrar que HB conseguira 175.000 votos (0'8%) e dous escanos em 1993 e 154.000 (0'7%) em 1996 e dous escanos em 1996. Em 2004 pediu o voto nulo colheitando 104.000 votos (0'4%). Agora somam 334.000 votos e 1'4% dos votos. Amaiur suma 24% dos votos em Euzkadi e 14'8% dos votos em Nafarroa e dá uma lição poderosa sobre a importância do frente único na esquerda (especialmente importante na esquerda soberanista que procura a emancipação social e nacional) [2]. 

A pesar dos inquéritos dos jornais espanhóis (e tal e como anunciava Gara) Amaiur fai-se com 7 deputados e constitui-se como na ESQUERDA mais esquerda de todas as esquerdas do parlamento espanhol. Em  Gipuzkoa fixo-se com 34'8% dos votos, em Bizkaia 19'2%, em Araba 19'1%. Em Nafarroa (onde a esquerda abertzale não conseguia representação desde 1986) conseguem um outro escano. Aliás, contarão com 3 senadores.

PNV é a força mais votada de Euzkadi e consegue grupo parlamentar próprio com 5 escanos a pesar de ter por primeira vez em três legislaturas um parceiro no espaço abertzale e não um parceiro qualquer senão uma coligação de toda a esquerda abertzale. Consegue o 24'4% dos votos perante os 27'1% de 2008 pelo que ainda assim é tudo é capaz de medrar. Em Bizkaia alcançaram 32'6% dos votos (31'15 em 2008), em Gipuzkoa 22'4% (quase o mesmo que em 2008) mas cedeu um escano e em Araba manteve-se também com 18'8% dos votos. Em Nafarroa concorria com Geroa Bai (frente composta por PNV, independentes e Atarrabia Taldea após o fim de NaBai onde também ia Aralar e EA) e conseguiram tirar-lhe a UPN-PP um escano pelo que Usue Barkos repetirá como parlamentar e consolida-se a direita abertzale em Nafarroa.

Catalunya
CiU frenou o ascenso do PP ao manter o seu eleitorado nacionalista e o seu eleitorado conservador e a pesar das suas duras políticas ultraliberais no Govern. Por primeira vez é a força mais votada de Catalunya por cima do PSC que apenas foi a força mais votada em Catalunya o que deixa ao PSOE como força mais votada apenas nessa província e em Sevilha. A vitória é dupla, já que consegue 16 escanos, ser a terceira força política do Estado a pesar de concorrer apenas numa C.A. Nenhuma sondagem situava a CiU por cima do PSC e o resultado deixa muito tocado ao PSC e a Carme Chacón na carreira pela sucessão de Rubalcaba. As palavras de Durán i LLeida foram: "Hoje ganhou o pacto fiscal, a vontade da independência económica".

Esquerra Republicana (ERC) frenou a sua queda livre após remudar a direcção do partido. Após uma catarse interna a candidatura do independente Alfred Bosh mantém os escanos de 2008 embora continue e a perda de votos. Oriol Junqueras, novo presidente de ERC, apostara por concorrer neste novo ciclo com Reagrupament (cisão de ERC) e com Sí. O seguinte passo seria uma grande convergência do teor de Amaiur que permitam voltar aos 652.000 votos de 2004 e os 8 deputados da etapa Carod Rovira. Dous deputados saíram por Barcelona e o terceiro, muito disputado com o PSC, por Girona.

GALIZA

O BNG mantém os seus 2 deputados o que se desamalhou a euforia na executiva da frente que semelhavam os capitães do Titanic, embora a constante perda de votos faz que a mareia de protesto se converta em tsunami e dous meses da Assembleia nacional do BNG. Este sábado reunirá-se o Conselho Nacional para avaliar os resultados, dous deputados e a perda do senador. 

Em A Crunha o BNG colheira 11% do voto e mantém o escano de Jorquera e o PSOE 27% perdendo um escano e o PP 51% dos votos e cinco escanos. O PP ganha em 93 dos 94 concelhos da província com 70'3% de participação. A salvidade foi As Pontes onde o PSOE obteve 21 votos mais do que o PP. Na província o PP medra 19.000 votos (9%) e o PSOE perde 130.000 votos (14%). O ex-ministro Caamaño, no entanto, fixo a leitura de que o PSOE avançara 3% com respeito a maio de 2011. Francisco Jorquera e o BNG superam 11% mas deixam pelo caminho 10.000 votos.

Em Ponte Vedra o BNG obtém outro escano e 11% dos sufrágios. O PP, com a responsável de sanidade do partido Ana Pastor à cabeça, incrementa os seus apoios e alcança 49% dos votos o que se traduz em 4 escanos. O PSOE fica com 2 escanos (perde um) e 28% dos votos. Com o 99'8% na província o PP alcançava 50'8% das papeletas medrando 7% e somando 281.213 sufrágios. Em 2000 o PP obteve o melhor resultado nesta província com 284.955 votos. O PSOE cai quase 12% e deixa no caminho por volta de 100.000 votos. Olaia Fernandez Davila e o BNG recebem 66.869 votos com uma perda de 6.000 votos. Esquerda Unida e UPyD obtiveram bons resultados na província recebendo voto do PSOE e também algum que tradicionalmente ia parar ao BNG. Em Ponte Vedra cidade o BNG obtém 15% dos votos melhorando os seus resultados, se bem o PP ganha por vez primeira nos 62 concelhos da província. Em Vigo UPyD consegue 2% dos votos, o BNG 10'5 (perde 0'5%) e Esquerda Unida obtém 7'5% que numas locais seriam dous vareadores.

Em Lugo o PP fai-se com 55% dos votos e 3 deptuados, tirando-lhe um ao PSOE que fica unicamente com o escano de José Blanco. O PSOE cede a metade dos seus votos na província, o PP alcança resultados esmagantes (em Monforte quase 1 de cada 2 votos) e o BNG perde votos na maioria dos concelhos. Esquerda Unida e UPyD duplicam o número de apoios.

Em Ourense o PP faz-se com nada menos que 55% dos votos e três deputados, o PSOE apenas 27% e um deputado como em 2000. Esquerda Unida situa-se em 3%, UPyD 1%, PP mais de 56% do voto emitido, PSOE 27% (perde 11%) e o BNG fica com 9% (perde 1% dos votos).

O PP faz-se assim com 15 escanoso PSOE baixa a 6 e o BNG obtém 2. Com o 100% escrutado o BNG alcança 180.000 votos (11'2%) menos que em 2008 quando teve 212.543 (11'51%). As primeiras reacções não se fizeram esperar. Aliás, na Galiza desceu a abstenção a respeito das municipais deste ano de 30'5% para 28'23%  a maior participação na nossa nação desde as estatais de 2004.


O SENADO
No senado o PP consegue 165 deputados, dos quais 29 são por designação autonómica. O PSOE perde a metade praticamente dos seus escanos ficando em 65, 18 por designação autonómica. CiU faz-se com 13 senadores, ENTESA de Catalunya (PSC e ICV) com 10, 3 por designação. Nacionalistas (PNV-BNG) 6, dous por designação se bem Pérez Bouza peder o seu escano. Amaiur 3 senadores. E no Grupo Mixto CC e FAC 4, 2 por designação.


Assim ficaria o parlamento sem circunscrições eleitorais. Imagem tirada de aqui.



NOTAS
[1] Os resultados em Grécia de haver hoje eleições no Estado seriam:
DIREITA: Nova Democracia 24'6%, PASOK 14'8%, LAOS (extrema-direita do teor de UPyD) 5'7%
ESQUERDA: KKE (Partido Cominista de Grécia) 8'5%, Esquerda Democrática 6'2%, Syriza (coligação da esquerda radical) 5'9%.
INDECISOS: 20'2% com os partidos de esquerda em ascenso.

[2] A soma de HB e EA em 1989 e 1993 (concorriam separados) davam mais de 354.000 e 336.000 votos respeitivamente.

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