Indignar-se é o primeiro passo. Mas não abonda. Não dá para mudar o cenário nem as inércias nem a história. Não dá para mudar o futuro. Indignar-se é o primeiro passo: é o passo que desembocou, por citar um exemplo do campo da dignidade, na reclamação da digna raiva zapatista. Mas os zapatistas não só se indignaram contra o mau governo. Imediatamente depois dotaram-se de um aparato, de uma estrutura para a defesa e expansão do seu ponto de vista. De modo que indignar-se, por si mesmo, sem mais nada, não é mais do que um exercício individual. Porque nos indignemos não vão deixar os banqueiros de subirem os seus salários 36%, não vai deixar o poder económico de exercer as suas capacidades violentas –nem em Líbia nem em Catalunha– nem vão deixar de fazer reformas antissociais que servem só para trasladar as rendas dos salários e do capital produtivo para o capital especulativo. Porque nos indignemos, se é isso o único que fazemos, não vai deixar de ordenar quem ordena mal, nem o mau governo se vai tornar bom governo. Não vai mudar a correlação de forças – o bipartidismo vai continuar na mesma e a alternância entre partidos políticos ou, por outras palavras, a alternância entre os lobos de uma cor e os da outra não garantirá nada. E muito menos vai mudar nada se os indignados se considerarem exclusivos e teimarem em não reconhecer que a indignação há anos que tem adotado já formas muito mais propositivas em associações vicinais, em associações culturais, em organizações sindicais de classe ou em partidos de classe, que também os há. Indignar-se só não serve: não serviu em Tunísia nem em Egito, onde caíram as marionetes, mas o poder se manteve inalterado. Organizar-se é fundamental. E utilizar os mecanismos já criados não só é fundamental, como também favorece a concentração de forças e aumenta a capacidade de incidir. Crer que o que há dentro é puro e incriticável e que tudo o que fica fora é pernicioso ou está vendido a interesses espúrios é segregacionista e divisor. De modo que: menos pureza e mais construir.
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