26/05/2010

O pavoroso paralelo entre os EUA de hoje e os últimos anos da República de Weimar

O centro nom pode governar, ou o pavoroso paralelo entre os EUA de hoje e os últimos anos da República de Weimar. 
Patricia Lombroso - Il Manifesto.


Encontramo-nos com Noam Chomsky, que estivo dando umha série de palestras no Left Forum com o significativo título de "O centro nom pode governar" e com ocasiom da apariçom nos EUA do seu último livro Hopes & Prospects, publicado na editora Haymarket. No ensaio analisa, junto com "as esperanças e as perspectivas", os perigos e as possibilidades ainda abertas do nosso século XXI, o hiato crescente entre Norte e Sul, os mitos e as ilusons do excepcionalismo estadounidense, incluída a presidência de Obama, os fiascos das guerras no Iraque e no Afeganistám, o assalto israelita-estadounidense a Gaza, a nova divisom internacional do terror nuclear e a natureza dos recentes resgates bancários. "A situaçom que vivemos nos EUA de hoje dá medo. O nível de raiva, frustraçom e disgosto contra as instituiçons alcançou quotas impresioantes, sem que se enxergue a possibilidade de organizar essa raiva de maneira construtiva. Os parecidos com a República de Weimar despois de 1925 som assombrosos e extremadamente perigosos". Com essas graves consideraçons de Chomsky abrimos esta entrevista.

Quê paralelos económicos e sociais é que se dam entre a realidade estadounidense actual e o período da República de Weimar após 1925, que desocupou o caminho a Hitler?
O apoio de base de parte da populaçom alemá que abraçou a subida ao poder de Hitler estava constituída essencialmente pola pequena burguesia e a grande indústria que se serviu do nazismo como arma política para a destruiçom da classe operária na Alemanha. A coligaçom de governo que formou muito antes da Grande Depresom de 1929. Com as eleiçons de 1925, a Alemanha de Hindenburg - e a coligaçom governamental formada - era sociologicamente e quase demograficametne muito semelhante à que apoiou o ascenso ao poder em 1933 dumha personage tam escura como Hitler. Porém já afinal dos anos vinte extendia-se pola Alemanha esse mal-estar original composto de desilusons e de ressentimento contra o sistema parlamentar.
Presta-se menos atençom a um factor de grande importáncia, e é que o nazismo, para além da destruiçom de comunistas e socialdemocratas, triunfou tamém no seu propósito de destruir os partidos de poder tradicionais, conservadores e liberais, que se achavam já em franco declive durante a República de Weimar dos anos vinte. Essa é a impresionante analogia histórica com o que agora mesmo está madurecendo nos EUA. As últimas sondages da opiniom pública mostram que o assentimento da populaçom à forma de ser governada por democratas e republicanos desceu a 20%.
O ódio ao Congresso e a direcçom seguida polo governo da naçom supera 85%. Como no período veimariano da Alemanha, a populaçom estadounidense está desgostada pola confeitura entre os dous grandes partidos para salvaguardar os seus próprios interesses. A difusa mentalidade que cada vez ganha mais adetos entre a classe média estadounidense é a de que os membros do Congresso devem ser combatidos como "gánsters" e eliminados. A composiçom demográfica de quem abraça essas ideias está formada por brancos da América profunda, pessoas sem umha particular identidade e, sobretodo, sem outras perspectivas políticas que as expresáveis em chave antigovernamental. Esses grupos, como o famoso Tea party e outras faixas nascidas do vazio de direcçom política, fôrom mobilizadas e instrumentalizadas pola extrema direita, com riscos muito sérios. As classes industrais estadounidenses servem-se do que constituem inquietudes económicas e sociais legítimas da pequena burguesia, a fim de criminalizar a imigraçom, e isso ao tempo que utiliza o excedente de populaçom predominantemente afroamericana que ateiga os cárceres como um novo recurso de mao de obra a ínfimo preço nos cárceres dos estados ou nas privatizadas.

Por quê emprega você o paralelo com a Alemanha de Weimar, em particular, para o que está ocorrendo nos EUA, e nom noutros lugares, como Europa, onde os princípios do ultraliberalismo conservador vírom-se tamém amplamente realizados?



Porque a Europa conseguiu manter ainda com vida umha estrutura socialdemocrata. Sublinhou tamém que apenas América Latina, e já desde fai umha década, enjeitou o modelo ideado em Washinton. Aqui, nos EUA, as consequências dos princípios do ultraliberalismo salvage estám experimentando - insisto nisto - umha visível queda. O capitalismo fracassou, mas o desastre irreparável paga-o essencialmente a maioria da populaçom. Aqui os projectos grande-empresariais em colusom com o governo lográrom marginar socialmente a comunidades enteiras que se acham agora em desbandada, com o único fim de levar a termo a finaciarizaçom social e económica dos "executivos" dos sistemas bancários. Ao tempo, a classe empreendedora estadounidense utiliza a raiva e o desgosto da maioria da populaçom para fomentar o ódio antigovernamental, ainda sabendo o risco que isso trai consigo dum trunfo eleitoral da extrema direita do partido republicano. A situaçom é preocupante, já que o dano irreparável provocado polo liberalismo conservador provocou o resultado dum déficit público absorvido pola China e o Japom. Agora mesmo, a metade do déficit público estadounidense deve-se ao orçamento de Defesa. No contexto global, equivale ao total de todos os orçamentos de Defesa do mundo enteiro. A outra metade do déficit público tem sido originada pola explosom dos gastos sanitários dimanantes das ineficiências dum sistema de saúde absolutamente privatizado.

Porém agora acaba-se de aprovar a reforma sanitária promovida por Obama…
A reforma sanitaria de Obama aprovada polos democratas nom é um troco profundo do sistema sanitário estadounidense; a indústria privada da sanidade vive-a, ao fim e ao cabo como umha vitória política. E no fundo do cenário, a realidade segue a ser assaz dramática, porque o desemprego segue avançando e a recuperaçom económica nom remata de chegar.

Texto tirado de aqui. Traduzido desde o castelhano (a traduçom para o castelhano é de Ricardo Timón).

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