15/08/2010

Grandes invençons da humanidade

Eduardo Galeano, por ser um texto avondo literário talvez seja recomendável lê-lo em versom original. Podedes consultar a versom castelhana clicando aqui.



A porta giratória


A porta que gira foi inventada em Berlim, em 1881, para evitar o frio, o vento, a neve, o pó e o ruído.
Mais de dous séculos depois*, serve também para circular, gira que te gira, entre os negócios, a política e a guerra.
Alguns casos mais ou menos recentes, em Estados Unidos:
Robert McNamara encabeçou a empresa Ford, onde fixo o que pudo contra a natureza e contra os peatons distraídos, até que um giro de porta lançou-no para a direcçom da matança de Vietnam, durante uns quantos anos, e culminou a sua carreira exterminando países desde o Banco Mundial;
Donald Rumsfeld foi chefe de Gabinete do Governo de Estados Unidos, desde ali a porta giratória arroxou-no a umha fábrica de Monsanto, a serial killer multinacional, onde legaliçou velenos que foram proibidos, até que a porta girou novamente e apareceu conduzindo a guerra de conquista do petróleo do Iraque;
Dick Cheney encabeçou o Pentágono no Governo de Bush pai, e agasalhou jugosos contratos militares a sua empresa Halliburton, e de aí se passou ao Governo de Bush filho, onde se ocupou da demoliçom e reconstruçom do Iraque en benefício de Halliburton, sempre no centro do seu generoso coraçom.
E o vaivém da porta nom parou.
Meado o ano 2009, o presidente Obama colocou a Michael Taylor à cabeça do organismo público que controla os alimentos e os medicamentos que se vendem no país. Taylor já tinha trabalhado lá. Fora ele quem dera o visto bom às hormonas transgénicas para vacas leiteiras, que podem produzir cáncer, e autorizara que esse leite se vendera sem nengumha advertência no envase. Monsanto expressou a sua gratitude outorgando a Taylor o cargo de vice-presidente da empresa.


O guarda-chuvas


Fai uns dous mil quatrocentos anos, os chinos usavam guarda-chuvas de varas plegáveis.
O modelo nom mudou muito, mas há vertos instrumentos, de uso mais exclussivo, que se usam para atravessar as grandes tormentas históricas.

Esses guarda-chuvas extraordinários salvárom os altos executivos que perdêrom os seus empregos, durante a crise que está castigando o mundo.
Em cifras redondas:

Robert Eaton, directivo de Chrysler, recebeu um consolo de cento trinta milhons de dólares;

Lee Raymond, da petrolera Exxon, trescentos cinquênta milhons de dólares;

Robert Nardelli, da construtora Home Depot, duzentos dez milhons;

Hank McKinnell, da farmaceútica Pfizer, duzentos milhons.

Lloyd Blankfein, da financeira Goldman Sachs, nom perdeu o seu emprego, mas tivo que reduzir o seu ordenado anual, que era duns cinquênta milhons de dólares: o que lhe ficou para evitar que a crise o afogara.

O semáforo


O primeiro semáforo funcionou, desde finais de 1868, perante o Parlamento británico.
No nosso tempo, outros semáforos, muito mais poderosos, dirigem o tráfico mundial.
Em quase todos os países do norte, a luz vermelha impede a circulaçom de ervicidas, pesticidas e abonos químicos que contenham abamectina, acefato, carbofurano, cihexatina, endosulfato, forato, fosmet, lactofem, metamidofós, paraquate, parationa metílica, tiram e tricloform.
Em quase todos os países do sul, a luz verde da bem-vinda desses mesmos agrotóxicos velenosos para a saúde humana, que os países do norte lhes vendem.

Quem maneja os semáforos?
Quem governa os governos?


O elevador


Segundo dim, o primeiro ascensor foi umha cadeira com roldanas, que o gordíssimo rei inglês Enrique VIII inventou, há séculos, para evitar as escadas do palácio.
Mais modernos elevadores empregou Sílvio Berlusconi para subir para o poder absoluto em Itália.
No ano 1984, Bettino Craxi, socialista, presidente do Conselho de Ministros, assinou um decreto-lei que abençoava o monopólio de Berlusconi sobre a televisom privada.
Craxi conhecera-o num cruceiro, onde Sílvo animava aos passageiros com as suas brincadeiras e as suas músicas. Atraído pola sua insuperável vulgaridade e o seu extraordinário mal gosto, Craxi jurou-lhe amizade eterna e eterna televisom.
A televisom foi o principal elevador de Berlusconi cara o poder político. O futebol também ajudou, desde que comprou o clube Milám e ganhou vários títulos. Eleito e releito várias vezes por o voto popular, exerceu o Governo de Itália e do Milám, converteu-se num dos homes mais ricos do mundo e no campiom mundial da impunidae, atravessou invito umha infinidade de processos judiciais e nom estivo nem um só dia preso, enquanto convertia os seus vícios em admiráveis virtudes e as suas estafas em fazanhas dignas de aplauso.



O chivo expiatório


Segundo antigas tradiçons religiosas, um macho cabrío cargava os pecados de todos e era castigado com a expulsom para o desierto.
Essa invençom serviu e segue a servir para descarregar sobre as costas alheias a responsabilidade das nossas desgraças e das nossas culpas.
Alguns povos, como por exemplo os judeus e os gitanos, venhem trabalhando de chivos expiatórios desde há muito tempo.
Meado o ano 2008, a revista italiana Panorama, que pertence a Berlusconi, titulou, em portada: "Nascidos para roubar".
Referia-se aos ziganos; e segundo os inquéritos, a opiniom pública coincidia com esse veredito genético. Pouco antes, Alfredo Mantovano, vice-ministro do Governo de Sílvio Berlusconi, desenvolvera a ideia, na televisom de Berlusconi:
- Os ziganos som um etnia inclinada ao roubo e ao seqüestro de crianças.
Ou seja ladras, e para pior, ladrons de nenos.
A Justiça italiana nom comprovara a veracidade de nengumha denúncia de sequestro de crianças por gitanos; mas ese detalhe carecia de importáncia.




* Evidentemente há um erro, nom pode inventar-se em 1881 e dizer logo "mais de dous séculos depois".

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