Artigo tirado de aqui.
A propósito dos 70 anos da morte de Leon Trotsky, revolucionário renegado pelo estalinismo, apresentamos este texto de Nahuel Moreno, fundador da LIT – QI (Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional). O texto foi escrito em 1985, pelo que a análise política data da época, mas ainda assim, a sua pertinência acerca da política trotskista é elucidativa.
Comecemos por entender o que significar ser verdadeiramente marxista. Não podemos fazer um culto, como se fez a Mao ou Estaline. Ser trotkista hoje em dia não significa estar de acordo com tudo o que escreveu Trotsky sem saber criticá-lo para superá-lo, assim como a Marx, Engels ou Lenine, porque o marxismo pretende ser científico e a ciência ensina que não há verdades absolutas. Isso é a primeira coisa, ser trotskista é ser crítico, inclusive do próprio trotskismo.
No aspecto positivo, ser trotskista é responder a três análises e posições pragmáticas claras. A primeira, a que se houver capitalismo no mundo ou num país, não há solução de fundo para absolutamente nenhum problema: começando pela educação, a arte e chegando aos maiores problemas, como a fome, a miséria crescente, etc.
Além disto, e apesar de não ser exactamente o mesmo, a posição de que é necessária uma luta sem piedade contra o capitalismo até à sua derrota, para impor uma nova ordem económica e social no mundo, que não pode ser outra que não a socialista.
Segundo problema: nos locais em que que se expropriou a burguesia (falo da URSS e de todos os países que se reclamam socialistas), não há saída se não se impõe a democracia operária. O grande mal, a sífilis do movimento operário mundial é a burocracia, os métodos totalitários que existem nestes países e nas organizações operárias, nos sindicatos, nos partidos que se dizem da classe operária e que foram corrompidos pela burocracia. E este é o grande acerto de Trotsky, que foi o primeiro a empregar esta terminologia, que hoje em dia é totalmente aceite. Todos falam de burocracia, às vezes até os próprios governantes destes estados a que chamamos operários. Enquanto não se construir a mais ampla das democracias não se começa a construir o socialismo. O socialismo não é só uma construção económica. Só o trotskismo fez esta análise e também só o trotskismo concluiu que era necessária uma revolução nestes estados e também nos sindicatos para se chegar à democracia operária.
A terceira conclusão, decisiva, é que o trotskismo é a única resposta consequente na realidade económica e social mundial, quando um grupo de companhias multinacionais domina praticamente toda a economia mundial. A este fenómeno económico-social há que responder com uma organização e política internacionais.
Nesta era de movimentos nacionalistas que opinam que tudo se soluciona pelo próprio país, o trotskismo é o único movimento que diz que só há solução a nível da economia mundial inaugurando uma nova ordem, o socialismo. Para isto, é necessário retomar a tradição socialista da existência de uma internacional socialista, que encare a tarefa estratégica e táctica para conseguir a derrota das grandes multinacionais que dominam o mundo inteiro, para inaugurar o socialismo mundial, que ou será mundial ou não será.
Se a economia é mundial tem de haver uma política mundial e uma organização mundial dos trabalhadores para que todas as revoluções, para que todos os países que façam as suas revoluções, se estendam à escala mundial por um lado; e por outro lado, para que a classe trabalhadora tenha cada vez mais direitos democráticos, para que seja ela a tomar o seu destino nas suas mãos pela via da democracia.
O socialismo não pode ser senão mundial. Todas as intenções de iniciar um socialismo nacional fracassaram, porque a economia é mundial e porque não pode haver solução económico-social dos problemas dentro das estreitas fronteiras nacionais de um país. Há que derrotar as multinacionais à escala mundial para entrar na organização socialista mundial.
Por isso, a síntese do trotskismo hoje em dia é que os trotskistas são os únicos no mundo inteiro que têm uma organização mundial (pequena, débil, tudo o que se quiser), mas a única internacional existente, a Quarta Internacional, que retoma a tradição das internacionais anteriores e a actualiza frente aos novos fenómenos, mas com a visão marxista: que é necessária uma luta internacional.
Nahuel Moreno 1985
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