03/09/2011

Líbia, umha guerra de manual

Antom Fente Parada.






Caiu Muammar Khadaffi e Europa e os EUA falam de reconstruçom e de grandes somas de dinheiro para reflotar a economia líbia. Podemo-nos sentir fachendosos do bom fazer e obrar dos nossos dirigentes sempre atentes a exportar a "democracia" lá onde o ouro preto sai da terra. Queiramos ou nom a guerra de Líbia, sob a camuflagem de guerra incivil, configura o novo modus operandi do imperialismo dos direitos humanos. A diferença do iraque supom umha nova forma de interferir num Estado soberano para benéficio das elites ocidentais em que o desgaste do império é menor, a sua imagem nom se resente e os benefícios correrám a regueiros.

A guerra de Líbia é a morte matada da primavera dos povos árabe. Umha dupla morte, dumha banda pom-se fim à soberania líbia mediante as dívidas contraídas com occidente, coma sempre em meio dumha guerra, e assumindo nom só a dívida do bando ganhador mas também com toda certeza as dívidas da Líbia de Khadaffi. Doutra banda, esmagará-se o nível de vida da populaçom local e provavelmente vivirá-se umha involuçom nos direitos colectivos e individuais baixo a extrema direita islámica que já impuxo a lei islámica como fundamento do direito do futuro estado "democrático". 

Prolongar a guerra de Líbia era umha boa forma de nom sujar as maos directamente enquanto os impostos das populaçons dos estados occidentais (contrárias à guerra maioritariamente) pagavam os bombardeios, enquanto eles proprios som bombardeados por pacotes de mais e mais austeridade. Richard Armitage, ex-subsecretário de Estado indicou para o Iraque que a forma de conduzir a guerra da "coligaçom" fora demasiado branda. Em sua opiniom devia-se tomar nota de Alemanha e Japom após a II Guerra Mundial, quando a populaçom ficou exausta e profudamente paralisada (em estado de shock) a raíz do acontecido. Assim, umha vitória muito rápida frente às forças inimigas impediu que a gente se sinta atemorizada como nos casos aludidos e, portanto, "os EUA enfrentam-se a umha populaçom iraquiana à que o shock e a conmoçom nom lhe figérom efeito"[1].  O imperialismo dos direitos humanos, tal e como o historiador Eric Hobsbawn o tem denominado, mais umha vez actua seguindo o seu manual:


A persistência da firme linha de continuidade até o presente revela mais uma vez que os EUA parecem-se muito a qualquer estado poderoso. Perseguem os interesses estratégicos e económicos dos sectores dominantes da sua populaçom, ao som dumha fanfarria retórica sobre a sua dedicaçom aos valores mais elevados. Trata-se praticamente dum universal histórico, e é o motivo pelo que a gente sensata empresta pouca atençom às declarações de nobres intençons dos dirigentes ou os elogios de seus seguidores [2]. 
 A Líbia do ditador Khadaffi cumpre lembrar que era um estado com uns níveis de serviços sociais à cabeça do continente africano, com o nível educativo e a esperança de vida mais elevados de África algo que reconhecem até os que agora o pintam como inimigo público de Ocidente enquanto há dous dias se abraçavam a ele e nos diziam que era um "amigo" que combatia a Al-Qaeda [3].

Eurolándia e a guerra de Líbia

O conflito Líbio, cozinhado muito antes das revoltas árabes polos serviços secretos franceses[4], vai ser um bom negócio para Eurolándia. Os rebeldes nom tardárom em assinar um acordo petrolífero com Qatar [5], poucos dias depois de começar a guerra, e o "terrorista" Khadaffi combatia com mercenários contratados por umha empres israelita (que agora desencadeu um racismo forte contra os negros de Líbia) contra os combatentes de Al-Qaeda incluídos na coligaçom, como reconheceu o comandante rebelde Al-Hasidi [6].

Em primeiro termo, a guerra é interessante para o complexo militar-industrial, onde o Estado espanhol tem muito a dizer [7], já nom apenas polas armas que fôrom vendidas a um e outro bando, mas também porque assim justificam-se enormes despensas militares duns estados que reclamam recortes orçamentares e "austeridade" para as suas populaçons.

Nesta tesitura, se os estados occidentais quigessem promover a sério a libertaçom dos povos oprimidos de todo o mundo, nom venderiam armas a ditaduras infames, nom manteriam trocas financeiras e comerciais com regimes opresores e nom teriam relaçons políticas "amigáveis" com corruptos ditadores ao som de guerras imperialistas em nome da "liberdade" (de mercado apenas) e dos "direitos humanos" apenas em lugares de interesse geostratégico.

Tanto é assim que França, um dos principais estados envolveitos na guerra imperialista de Líbia, contará com 35%  do petróleo Líbio que alimentará os lucros das petroleiras galas [8], como Itália leva tempo batalhando para ter umha boa porçom do pastel. Está já mais do que constatado que a indústria do petróleo, que ameaça com erradicar a vida sobre a Terra, consegiu de maniera sistemática converter os desastres em benefícios a curto e longo prazo, já seja asegurando-se de que umha grande parte dos fundos no Afeganistám se invertiram em caríssimas infrasturas para construir um novo oleoduto (enquanto a maioria dos programas de reconstruçom se paralisavam ou ficavam dilapidados na burocracia de mega-empresas occidentais); de aprovar umha nova lei do petróleo no Iraque enaqunto o estado ardia; ou erguendo novas refinerias (as primeiras desde a década de setenta) nos EUA após o furacám Katrina. Líbia nom será a excepçom.


Os EUA e a guerra de Líbia

O fracasso do Novo Século Americano conduziu a que os EUA e os redactores da política externa de Obama tomaram boa nota. Os EUA vivem estes dias umha polémica polos 60.000 milhons de dólares que se dilapidárom no Iraque e no Afeganistám, já que a subcontrata de exércitos privados alentada por Rumsfeld e Chenney alentou a corrupçom e disparou os gastos. No entanto, pouco som esses 60.000 milhons de euros, umha bagatela da que estes dias se fala, face os 3'2 bilhons de euros que custárom esses conflitos bélicos. Que lho perguntem aos 45 milhons de pessoas que vivem na extrema pobreza nos EUA ou às 225.000 vítimas mortais do conflito (ao que cumpre somar os empobrecidos, as viúvas, os órfaos, os eivados, os refugiados...) [9].

Exportar democracia é um bom negócio.  Muammar Khadaffi era um bom sócio de Occidemte, a diferença de Nasser que, em palavras do secretário de Estado Dummes, era "um ditador expansionista do estilo aproximado de Hitler", um monstruo cuja Filosofia da revoluçom dificilmente podia diferenciar-se do Mein Kampf de Hitler. De Nasser Eisenhower dizia que tentava apropriar-se de todo o petróleo de Oriente Próximo, que os recursos foram dos egípcios conviram com ele que é algo a todo ponto  intolerável do ponto de vista humanitário, com cujos ingressos destruiria o mundo ocidental.

Com Sadam  Husseim e com Khadaffi o petróleo vinha a bom preço para Occidente, mas nom para as empresas que mais lhe convinham aos EUA (gigantes coma Exxon Mobil com 40.000 milhons de dólares em benfícos em 2006 viam-se "pejudicadas" por empresas italianas e europeias) e, sobretodo, porque o petróleo líbio e iraquiano estava intoleravelmente "nacionalizado" e ninguém no seu sano juízo desde 2008 pode negar as bondades do livre mercado e a privatizaçom. Aqui é que remata a literatura da intervençom humanitária e ficam ao descoberto "esses farsantes xenocidas" [10].

Com Obama em Líbia começou umha contrarrevoluçom em toda regra para pôr fim e dinamitar "a primavera árabe", tal e como Meissan advertia[11]. O império calcula que para 2013 25% do petróleo que necessitam sairá das Áfricas. Em Líbia apoiárom-se nos monárquicos que alçam a bandeira do rei Idris e os fundamentalistas do islam ganham posiçons. A sharia ou lei islámica será a fonte principal da legislaçom e Abdelhakim Belhaj foi nomeado comandante do Conselho Militar de Trípoli. Este persoeiro fora membro do Grupo Islámico Combatente Líbio relacionado com o 11-m segundo a ONU.

Aos nacionalistas espanhóis conviria-lhes lembrar também outro episódio de "terrorismo respeitável" relacionado com o 11-m e os EUA, precisamente quando Aznar apoiava a Bush na operaçom "liberdade duradoura". A administraçom Bush negou-se a permitir que as autoridades espanholas interrogaram a Ramzi bin al-Shibh um suspeitoso crucial de Al-Qaeda, para reforçar os argumentos contra dous imputados na planificaçom do 11-m.

A día de hoxe, nom é necessário lembrar que se as intençons da comunidade internacional (occidental) som as de liberar os povos oprimidos do mundo ou proteger às populaçons que som vítimas recorrentes da violência armada, por que nom se exponhem a intervençons em Bahrein, Iemem, Myanmar, Zimbabue, Bielorrúsia, Tchetchênia, Síria, Tíbete, República Democrática do Congo, República Centroafricana, Guinea Equatorial. etc. O apoio à democracia é a armadilha dos ideólogos para a "opiniom pública" e o parapeto dos propagandistas do sistema. No mundo real, o asco que pola democracia sente a elite é a norma:
Enquanto o grosso da população se mantenha passiva, apática, entregue ao consumismo ou ao ódio contra os vulneráveis, os poderosos do mundo poderão seguir fazendo o que lhes venha em ganha, e aos que sobrevivam a isso não ficar-lhes-á senão contemplar o catastrófico resultado[12].
O negócio da reconstruçom

Como Naomi Klein demonstrou em A doutrina do shock cada novo desastre (tsunami, crise económica, guerra, etc.) é aproveitado para gerar impresionantes lucros para um conglomerado de empresas do capitalismo do desastre e a "ajuda humanitária" fica atrapada em burocracias imensas, na corrupçom, etc. Rara vez chega nem remotamente aos que verdadeiramente necessitam a "reconstruçom" das suas vidas. O "capitalismo de estado militarizado" dos EUA dá pé ao darwinismo social militarizado a nível global.
Os valores da construçom pessada crescêrom 250% entre 2001 e abril de 2007. 30.000 milhons para a reconstruçom do Iraque, 13.000 para a recontruçom do tsunami de Sri Lanka e o sul de Ásia, 100.000 milhons para Nova Orleans e a Costa do Golfo após o Katrina, 7.600 milhons para o Líbano e assim seguido. Os maiores contratistas de serviços gastárom por volta de 300 milhons de dólares entre 2000 e 2007 em pressom política nos EUA e 23 milhons em campanhas políticas para o mesmo período.

No caso de Líbia as cifras prometem enquanto o nível de vida da populaçom cairá mais e mais sob um regimem tam tirano ou mais do que o anterior. Polo de pronto a ONU, organizaçons internacionais e as principais potencias imperialistas "desbloqueárom" 15.000 milhons de dólares reclamando "paz, estabilidade e reconcializaçom" [13]. Será difícil a paz, a estabilidade e a reconcializaçom num estado profundamente divido pola guerra, o racismo, as vítimas directas e indirectas, a degradaçom das condiçons de vida e a chegada do integrismo islámico. 

Ao tempo, os activos de Khadaffi estimam-se em 50.000 milhons de dólares distribuídos orbi et orbe, oque nos recorda que era um bom amigo do império.Agora, EUA, África do Sul, Itália, França e outras aves de rapinha cernem-se sobre o petróleo líbio. 

O "humanitarismo" é, desde logo, um grande negócio. É o futuro, nom é difícil imaginar um mundo onde os pudentes se retirarám a comunidades bem protegidas por mercenários e segurança privada com todo lujo e pompa que grandes coorporaçons lhe fornecerám. O estado, entre tanto, criará mais e mais burocracia e repressom para manter no seu sítio aos deserdados. É o paraíso e o inferno na Terra, a sociedade da quinta parte. Aí chegará-me mediante o "nom há alternativa" e o "mal menor" [14]. Mediante a doutrina do shock: "em momentos de crise, a populaçom está disposta a entregar um poder imenso a qualquer um que afirme dispor da cura mágica, tanto se a crise é umha forte depressom económica como se é um atentado terrorista". Na década de 30 Hitler tinha essa soluçom para Alemanha, hoje os "mercados" tenhem-na também para Eurolándia. Assim é como exportamos democracia e direitos humanos polo mundo, miséria, exploraçom, morte e a destruiçom criativa do capitalismo serôdio.

NOTAS 
[1] Naomi Klein: La doctrina del Shock. El auge del capitalismo del desastre, Paidós, Barcelona, 2010.


[2] Avram Noam Chomsky: Estados fallidos. El abuso de poder y el ataque a la democracia, Biblioteca Pensamiento Crítico-Público, Barcelona, 2010, pp. 336-337.


[3] Veja-se entre outros muitos exemplos que poderiamos citar  o seguinte: http://www.elpais.com/articulo/internacional/Gadafi/tirano/cinico/elpepiint/20110222elpepiint_4/Tes. Em Líbia, o regime de Muamar Gadafi é corrupto, monopoliza uma grande parte da riqueza do país e sempre reprimiu severamente qualquer tipo de oposição. Mas as condições sociais da gente de Líbia são melhores que nos países vizinhos: a esperança de vida em Líbia é maior que no resto da África; os sistemas de saúde e de educação são bons; Líbia é um dos primeiros estados africanos que erradicárom a malária. Conquanto havia umha grande desigualdade na distribuição da riqueza, o PIB por habitante é de 11.000 dólares -um dos mais altos do mundo árabe.






[9] Intermon Oxfan calculou que em 2010 os desprazados afegaos eram 3 de cada 10 do mundo. A ONU pola sua banda indica para o Iraque que 1'5 milhons abandonárom o seu fogar e ouro milhom emigrou a estados limítrofes, muito longe de Washintong, Paris e Madrid. Nom sem motivos podemos aguardar um auge do terrorismo islámico, única resposta para quem o perdeu todo perante o terrorismo "humanitário" de ocidente, "terrorismo respeitável" isso sim. No Afeganistám desde 2001 morrérom 9.000 civis, exceptuando 2011 onde se contabilizam já 1.200. No Iraque desde 2003 finárom quando menos 106.348 civis. [Dados tirados de Público, 1-9-2011].

[10] Xosé Manuel Beiras: "Eses farsantes xenocidas" em http://revoltairmandinha.blogspot.com/2011/03/eses-farsantes-xenocidas.html.

[11] Thierry Meyssan: "Médio Oriente: a contrarrevoluçom de Obama" em http://revoltairmandinha.blogspot.com/2011/03/medio-oriente-contrarrevolucom-de-obama.html.

[12] Avram Noam Chomsky: "A privatização do planeta: um mundo demasiado grande para cair?" em http://revoltairmandinha.blogspot.com/2011/04/privatizacao-do-planeta-um-mundo.html.


[14] Naomi Klein: La doctrina del Shock. El auge del capitalismo del desastre, Paidós, Barcelona, 2010, p. 228.



Nenhum comentário: