29/04/2010

Bangsters

Tem saltado à palestra nos últimos dias a imputaçom do vampiro dos mil tentáculos, Goldman Sachs. A Securities and Exchange Commision (SEC) vem de apresentar umha demanda civil contra Goldman Sachs por mor da comercializaçom de valores respaldados por hipotecas-lixo responsáveis em grande medida da crise financeira de 2008. A Goldman Sachs é o banco de inversons mais importantes de Wall Street e, daquela, do mundo.

Resulta surpreendente que seja agora quando se encause ao vampiro fagocitador, cuja filosofia vem sendo ao longo da história o comportamento fraudulento em massa para a acumulaçom de lucro, sem importar para nada a economia real. A Goldman Sachs fundou-se fai mais dum século e desde sempre moveu-se como peixe na auga no que se tem denominado como porta giratórica, quer dizer, a capacidade de interacçom desde o grande capital com a instáncia política, supeditando-a em última instáncia aos seus intereses e seqüestrando as instituiçons da cidadania e os seus representantes. Anulando de facto a democracia representativa, esvaleirando-a completamente de conteúdo. O Banco da Reserva Federal de Nova Iorque ou o Teseouro dos EUA som algumhas das agências de colocaçom para agentes da Goldman Sachs, independentemente da cor do governo, ora republicano, ora democrata.

Os mais altos directivos da companhia, ao igual que Ernst & Young, a auditora da Lehman, permitírom umha contabilidade enganosa para festim da Goldman Sachs e se agora se prova será punido com penas de cárcere. O chamativo é como após o célebre escándalo da Enron é possível que caíram nesta teia de aranha, ou bem é a única maneira de operar para para reter aos seus clientes perante a competência, ou bem os mecanismos para cumprir a lei som tam laxos que se criam intocáveis. Talvez as duas hipóteses que lança Randall Wray sejam correctas.

Para Mike Whitney a desrugalizaçom está por trás do fraude, em consonáncia com o informa do jurista Willian Black perante o Comité de Finanças do Congresso dos EUA. No devandito artigo assinala-se que a crise nom foi por acaso, mas o resultado dum fraude perpetrado por entidades financeiras como Lehman Brothers, com Goldman Sachs de por meio claro:

"Lehman foi o principal subministrador mundial de empréstimos mentirosos. Durante a maior parte desta década, o estudo dos empréstimos mentirosos revela umha incidência do freude de 90%".

A tragectória destes bangsters, como sustentavam as faixas dos manifestantes da sociedade civil recentemente, é unívoca, de modo que desde a Guerra Civil dos EUA nom houvo crise em que esta trincheira da especulaçom nom estivera de por meio. A este respeito, foi John Kenneth Galbraith quem em The Great Crash analisou o papel da Goldman na Grande Depresom iniciada oficiosamente naquela quinta-feira preta de 1929.

Em 1929 as companhias como a Goldman actuavam de intermediárias no boom bursatil sem emitir acçons. Este cómodo papel permitia-lhe junguir os intereses das distintas companhias conformando fundos fiduciários que, por sua vez, podiam aceder a valiosas acçons doutras companhias para logo vender as suas participaçons nesses fundos a incautos. Os fundos fiduciários de inversom colectiva supunham para a Goldman umha inversom muito pequena e empregando o alavancamento por meio de quartos de terceiros, quer dizer, dos incautos que adquiriam esses activos tóxicos. Logicamente, estes mecanismos do capital financeiro nom guardavam relaçom algumha com as atividades produtivas ou com os ingressos reais das transiçons económicas da estrutura económica real do capital-industrial e do capital-mercantil.

Precisamente, a disfunçom entre umha economia real que alcançara o seu zénit e estava em declínio e o artificioso boom bursatil do capital financeiro produzírom um colapso ao dar-se umha deflagraçom sem precedentes da dívida, quando todos os actores tentárom desfazer-se simultaneamente dos activos tóxicos, com a conseguinte queda nos preços das acçons. Para José A. Tapia Granados é totalmente acertada a análise que figera Wesley Clair Mitchell dos altibaixos da economia do dinheiro (the money economy) no seu livro Bussines cycles.

"Para Mitchel as causas determinantes da recesom encontram-se nos processos próprios da expansom prévia, enquanto que as causas determinantes do retorno à expansom venhem dadas por processos próprios da recesom que a precedeu. Face aos enomistas que aludindo a fames da Idade Média ou a hiperinflaçom do Império Romano diziam que sempre houvera crises económicas na história, Mitchell afirmava que os ciclos comerciais, as recorrências expansom-recesom som um fenómeno específico da moderna economia de mercado, em que a produçom se leva a cabo mediante umha série de empresas cada umha das quais actua e se organiza para obter ganhos monetários. Para Mitchell é precisamente esse ganho monetarial empresarial a variável determinante do estado de expansom ou contracçom do sistema económico, que el denominava tamém profit economy, ou seja, economia do lucro, ou economia do ganho.
(...) Quanto os ganhos estám em expansom, a inversom tanto em ordenados como em matérias primas e instalaçom cresce, aumenta a demanda de trabalho e os ordenados tendem a crescer. A expansom retroalimenta-se, dando tamém lugar a especulaçom finaceira, até que por umha série de processos imbricados o crescimento dos ganhos empresariais começa a floxear. Isso fai que invirta menos, que haja quedas de algumhas empresas e por vezes de bancos e que, de sócato, os ganhos empresariais em conjunto começem a descer, as quedas e as bancarrotas tornam-se frequêntes, o desemprego inça e desamalhoa-se a crise. Durante a crise os processos que reduzem a rendabilidade e a actividade económica em todos os sectores e geram quedas e aumento do desemprego retroalimentam-se por um tempo, mas finalmente dam passo a processos a contrário que fam que os ganhos empresariais tornem aumentar, com o que se criam boas espectativas para a inversom, de forma que dá começo o seguinte período expansivo
".

Entom os picos de ganhos, em que a Goldman é bom exponente na esfera do capital-financeiro, correspondem-se com a porta de cada nova crise. É mais, a primacia do capital financeiro desde o triunfo do paradigma ultraliberal, a destruiçom criativa da economia real, fai que o sistema mundo entre em queda e que as crises se volvam cada vez mais frequêntes e dumha intensidade maior. Nada que nom poda ler-se e aventurar-se nas análises ecónomicas do próprio Marx.

A credibilidade da Goldman estava garantida pola secretário do Tesouro Geither que permitiu que a Goldman actuara como banco para assegurar-se de que tivera entrada nos fundos públicos a custos irrisórios e, já que logo, outorgava-se-lhe deste jeito umha maior capacidade para obter benefícios e, por ende, respetabilidade. O papel de intermediário histórico na Goldman resultava inane para acumular lucro na subida da bulsa durante o boom da década de noventa e foi entom quando decidírom passar ao mercado bursatil tirando acçons. Deste modo a Goldman ganhava comissons tanto da parte ganhadora como da perdedora e, por sua vez, fazia-se com os benefícios ao aliar-se sempre com a parte ganhadora e gestionar directament esses benefícios.

As conseqüências imediatas fôrom que 80% dos benefícios da Goldman procedem de transacçons, intermediaçons e atividades de inversom, quando anteriormente só representava 20% do montante total. Todo isto viu-se ajudado pola nom desregularizaçom do mercado, ou seja, o contrário da prédica ultraliberal, já que a parte de contar com informaçom privilegiada sobre os mercados financeiros contava com com empréstimos do Banco da Reserva Federal a tipos de juros próximo a 0%. Em 2009 pagárom 5.000 milhons de dólares em interesses por empréstimos solicitados face os 21.000 do exercício anterior. A isto suma-se que o sector público injectava activos por outras vias: os 12.900 milhons de dólares injectados polo Fundo de Garantias através do resgate bancário de AIG, do que Goldman sacou talhada a vez que intoxicava novamente a AIG, os 2.000 das seus novos escritórios financiados com 1675 milhons em bonos estatais (Liberty Bonds) livres de imposto (o que supom poupar 175 milhons em juros) e os subsídios por emprego e energia que ascendem a 66 milhons.

Os problemas para os bangsters iniciárom-se quando nom pudérom desfazer-se de activos-lixo altamente tóxicos denantes de que o mercado se desplomara, antes da queda imobiliária ponto comum entre os EUA e o Estado espanhol e que arruinava aquela prediçom de Bush I de que todos os americanos seriam proprietários, ficçom com a qual se tentou lá como aqui eliminar a conciência de classe. Propriedade fitícia através de hipotecas insufríveis que se apropriavam do ordenado futuro do trabalhador numha mais valia da mais valia retranqueando um chisco.

A Goldman Sachs está tamém detrás da ocultaçom da dívida grega em conivência com as agências de qualificaçom da dívida. Goldman tapava as misérias da dívida grega, da miserável classe dirigente grega para sermos mais exactos, ao tempo que contratava um seguro contra essa dívida para cobrir-se o lombo, tal e como tinha feito com estados americanos dispondo de informaçom de primeira mao sobre o precário estado das finanças desses estados. O mais grave é que a Goldman que agora salta à palestra pública é apenas a ponta do icebergue, pois o modus operandi é comum a todos estes polvos da especulaçom, rémoras e same sugas de povos e trabalhadores de todo o globo. Já apontam a Portugal, Itália, Irlanda e o Reino da Espanha.

Goldman vendera a Grécia swaps nos que pagava ao governo heleno por futuras fontes de ingresos por conceitos tais como taxas de aterrage em aeroportos. Assi, o governo grego podia ocultar a UE, a cidadania e ao mercado financeiro o seu déficit orçamentar, semelhante ao do Reino Unido, por certo. A queda de Grécia e a queda de AIG seguem um esquema comum detrás do qual está o vampiro dos mil tentáculos, como analisava num artigo Dean Baker.

The show must go on. A galinha dos ovos de ouro da especulaçom segue avante na mesma linha ultraliberal que tam bem funciona para alguns, como indicava numha entrevista Tariq Ali "os ricaços fam-se mais ricos e os suburvíos vam engrossando-se". A concentraçom do capital, a que ajuda qualquer crise como já indicara Lenine no Imperialismo, concentra-se a passos agigantados em cada vez menos maos, de tal sorte que em duas ou três décadas será precisso revisar a fundo, se nom o já, até onde som operativas as etiquetas Norte-Sul sem introduzir o vector vertical dentro de cada um desses espaços, quer dizer, o aumento dos excluídos, a queda do velfarismo e o medre das desigualdades com o adelgaçamento do estado, a reduçom do funcionariado e a virtual desapariçom das classes meias.

Alejandro Nadal fala de três momentos fulcrais. Em primeiro lugar, o Tratado de Detroit, o acordo laboral mais importante da pós-guerra, assinado entre a United Auto Workers e Ford, GM e Chrysler em 1950. O tratado consistia no constringimento do direito a greve dos trabalhadores a cámbio de ajustes salariais em consonáncia com a inflaçom, ventages em matéria de saúde, retiro, despidementos e férias. O Tratado de Detroit serviu como modelo para outras industrías durante duas décadas nos EUA, até que chegou a década ominosa dos setenta.

O segundo momento coincide com o estacamento da taxa de ganhos das industrias medulares da economia estadunidense no final da décade ominosa. A nova ofensiva da globalizaçom ultraliberal descendente centrou-se nas classes trabalhadoras com o objectivo de mudar o padrom de distribuiçom dos ingresos. O pacto social da pós-guerra, agora questionado na Europa com sanha, desmantelou-se gradualmente rematando com o crescimento sustentado dos igresos.

O último acto da tragédia coincide com a supremacia do capital financeiro e a desregularizaçom selvage do espaço financeiro. O ultraliberalismo financeiro foi o que permitiu e permite aos EUA manter a hegemonia toda vez que o poderio da economia real japonesa e alemá o punha em teia de juízo. A tragédia grega de hoje nom é mais do que um sucesso desta aposta dos americanos e o cabalo de Troia através do FMI e do BM para a destruiçom do euro.

A resposta necessária é clara, requere-se umha esquerda anticapitalista que rache com o consenco ultraliberal de democratas e republicanos, de psoés e upeidés e pepés, ou seja, o ultraliberalismo extremo dos anarco-capitalistas ou o ultraliberalismo com pele de ovelha da pseudo-socialdemocracia. Hai que apagar o atual pentagrama e tecer novas sinfonias, a contrário a música do Luís Cília fará-se-nos eterna: "É sempre a mesma melodia/ mudam as moscas/ só a merda nom varia". Die Linke, o Bloco de Esquerdas ou Esquerda Capitalista marcam pautas para essa nova esquerda apologética da intoleráncia perante o consenso ultraliberal. Na Galiza, o Encontro Irmandinho, tem que assumir a tarefa de construir umha esquerda libertária e republicana em coordenadas nacionais. Fica pouco tempo, e a classe trabalhadora se nom somos capazes de assumir este repto nunca no-lo perdoará.




28/04/2010

Eleiçons no Reino Unido: todos a aforrar, até reventar

Michael R. Krätke

É possível que nas eleiçons do vindouro 6 de Maio se rompa o predomínio dos dous grandes partidos na Cámara Baixa británica, mas nom se porá fim à crise orçamentar e financeira.

A Grande Bretanha segue sendo um dos pesos pessados da Uniom Europeia, assi como um membro do Clube do G8 e umha das potências do G20. Sob o mandato dos seus três últimos primeiros ministros, Thatcher, Mayor e Blair, celebrou o ultraliberalismo os seus maiores triunfos e chegou a empolairar-se como verdadeira normalidade da vida política. A estrutura económica e social británica transformou-se radicalmente. Em 2008 irrumpeu umha crise imobiliária de gestaçom caseira que aginha virou em crise financeira e que dificilmente parece superável agora como crise orçamentar.

Em 2009 fixo-se visível toda a magnitude da Cámara dos Comuns. Mais dumha quarta parte dos deputados laboristas e conservadores tenhem que renunciar agora a renovar os seus escanos e dar contas perante os tribunais de justiça. Os liberal-democratas, o Partido Nacional escocês e os Verdes podem aguardar ganhos eleitorais avondos como para tirar aos dous grandes partidos estabelecidos a maioria necessária para governar. Diria-se que se perfila no horizonte um final provisional do sistema bipartidista. A crise económica bateu na Grande Bretanha dum modo particularmente duro: o seu sector financeiro, de todo ponto sobredimensionado, foi de megaqueda em megaqueda, e o governo de Gordon Brown, de resgate bancário em resgate bancário. À City financeira de Londres foi-lhe bem, e de novo tem o aguilhom aguçado. O morto pagou-no todo o país, que rematou com umha gigantesca montanha de dívidas, por volta de 180 mil milhons de libras, e com um déficit orçamentar de dimensons gregas. A libra esterlina perdeu desde 2008 mais dum quarto do seu valor, mentres inça o buraco na balanaça comercial exterior, reflectindo o declive da própria indústria.

A promesa de Cameron

A crise encarregou-se de revelar as debilidades fundamentais do espantoso mundo novo do mercado ideado polo Novo Laborismo. Com a soa venda de derivados financeiros nom se pode pretender sucesso nengum a longo prazo. Tal é o transfondo dos "Manifestos" com que laboristas, conservadores e liberal-democratas pretendem atrair aos eleitores. Ao jeito do Velho Laborismo, Gordon Brown promete agora justiça para todos, descobre o senso e o propósito dumha política industrial ativa e de costas à política de privatizaçons que o seu próprio governo veu pondo por obra nos últimos anos. Os Tories fantaseiam com menos Estado, menos impostos, mais iniciativa privada, mais "sociedade civil". Ambos partidos querem reduzir o déficit orçamentar, e fazê-lo drasticamente de aqui a 2014. Para lográ-lo, a direçom laborista prentende aumentar as contribuiçons para a segurança social, o que os Tories reputam umha polítca de postos de trabalho. Tamém poderia pensar-se em impostos sobre o valor acrescentado, mas todos calam pudurosamente ao respeito.

Em comparaçom, os liberal-democratas tenhem propostas concretas com respeito da crise orçamentar. Na Grande Bretanha, como por toda a parte, o Estado perde ano após ano milheiros de milhons de recaudaçom fiscal, porque aforra-se no aparato administrativo do fisco. Na última fornada, aqui "aforrárom-se" mais de 20.000 funcionários de fazenda. Nom é, pois, extranho que o Estado británico perda agora anualmente 40 mil milhons de libras a causa da ocultaçom e do fraude fiscais. Porém o que está fixe para os partidos é mais bem umha disputa ideológica burlesca sobre distintas variantes dum programa ultraliberal.

Em 1979, Tony Blair prometera um referendo sobre a Lei Eleitoral e nomeara umha Comissom independente que recomendou umha mudança no sentido dumha representaçom proporcional; deu em nada. Quando em 2009, com o escándalo dos gastos dos deputados, o país sacudiu-se por umha treboada de indignaçom, Brown, o sucessor de Blair, tirou todavia da cartola das boas intençons o assunto da Lei Eleitoral; mas aí ficou a cousa. O único que neste assunto é capaz de propor o dirigente David Cameron é umha promesa de rebaixar o número de deputados na Cámara dos Comuns de 650 a 500. Menos Estado, menos Legislativo, tal é a premissa.

O ganhador perde

A lei eleitoral maioritaria británica segue o princípio de que o ganhador fica com todo, e as almas componhedoras resulta-lhes muito atrativa porque dirime hipoteticamente dum modo claro as correlaçons de forças. Agora mesmo, o que fai é gerar cálculos absurdos. Para relevar aos laboristas, os Tories deveriam ganhar 117 escanos mais, cousa que a sua atual quota nos distritos eleitorais fai barruntar como pouco menos que impossível. Com o atual sistema eleitoral poderia chegar a dar-se que o partido mais forte, com o maior número de sufrágios obtidos, alcançara o maior número de representantes, enquanto que, em troca, o que obtivera em total menos votos, pudera fazer-se com o maior número de escanos. Os liberal-democratas de Nick Clegg, ao que os inquéritos pronosticam agora mesmo entre 32 e 34 por cento dos votos, nom ganhárom nada em muitos destritos eleitorais, nas últimas eleiçons de Maio de 2005, a pesar de terem entre 30 e 40% dos votos. Se se dera um empate entre os dous grandes - um hung parliament, sem clara maioria, deveria formar-se um governo maioritário ou negociar-se umha colaçom, o que poderia dar à política británica um cotifom europeizante.

Mas, propriamente falando, quê opçons é que se apresentam perante os británicos? Trata-se da economia, trata-se do imponhente monte de dívidas, do tipo de política de aforro que cumpriria pôr por obra nos próximos cinco anos, trata-se da crise imobiliária e do sobreendividamento privado, da pérdida de postos de trabalho no sector público e no privado. Todos os partidos tratam de ganhar-se a qualquer preço a confiança dos mercados financeiros e das agências qualificadoras do risco nos títulos da dívida británicos; nom se vê, contodo, o menor indício dumha preocupaçom a sério pola regulaçom efetiva do setor financeiro. Todos querem manter as tropas no Afeganistám.

O Partido Laborista quere carregar um pouco mais as tintas sobre os arquiricaços com um imposto sobre os bonos, quiçais tamém com algum gravame aos bancos. Resulta o que resulte das furnas, hai que aforrar, aforrar até reventar. O reventom é já visível. Aos poucos setores do país que ainda funcionam a meias - como as universidades- estrangulará-se-lhe com o aforro. Como o previsível efeito de que se verám forçados a seguir transformado-se, mais ainda, se cabe, em máquinas de mercadotécnia e de ganhar dinheiro. Mui em linha da ideia novolaborista dum modelo empresarial para o setor público. Ainda se perdem o poder, o seu legado segue em pé.

Michael R. Krätke, é professor de política económica e direito fiscal na Universidade de Ámsterdao, investigador associado ao Instituto Internacional de História Social dessa mesma cidade e catedrático de economia política e diretor do Instituto de Estudos Superiores da Universidade de Lancaster no Reino Unido.

Artigo tirado deste site.

26/04/2010

Mensage para a Cimeira da Mai Terra, por Eduardo Galeano

Em 19 de Abril começou em Cochabamba, Bolívia, a Conferência Mundial dos Povos sobre a Mudança Climática e os Direitos da Mai Terra, convocada polo presidente boliviano Evo Morales. Esta é a mensage que enviou a essa Conferência o escritor uruguaio Eduardo Galeano. A traduçom para o galego foi feita polos gestores deste blogue da mocidade do Encontro Irmandinho desde o site da revista Sin Permiso.



“Os direitos humanos e os direitos da natureza som dous nomes da mesma dignidade”


Lamentavelmente, nom poderei estar com vocês. Atravessou-se-me um pau na roda, que me impede viajar.

Mas quero acompanhar de algumha maneira esta reuniom de vocês, esta reuniom dos meus, já que nom tenho mais remédio que fazer o pouquinho que podo e nom o muito que quero.

E por estar sem estar estando, ao menos envio-lhes estas palavras.

Quero dizir-lhes que ogalhá se poda fazer todo o possível, e o impossível tamém, para que a Cimeira da Mai Terra seja a primeira etapa para a expressom colectiva dos povos que nom dirigem a política mundial, mas padecem-na.

Ogalhá sejamos capazes de levar adiante estas duas iniciativas do companheiro Evo, o Tribunal da Justiça Climática e o Referendo Mundial contra um sistema de poder fundado na guerra e o desbanjamento, que despreça a vida humana e pom a bandeira de remate aos nossos bens terrenais.

Ogalhá sejamos capazes de falar pouco e fazer muito. Graves danos nos figérom e seguem fazendo, a inflaçom da verba, que em América latina é mais nociva que a inflaçom monetária. E tamém, e sobretodo, estamos fartos da hipocrisia dos países ricos, que nos estám deixando sem planeta enquanto pronunciam luxuosos discursos para disimular o seqüestro.


Hai quem di que a hipocrisia é o imposto que o vício paga à virtude. Outros dim que a hipocrisia é a única prova da existência do infinito. E o discursario da chamada "comunidade internacional", esse clube de banqueiros e guerreiros, porva que as duas definiçons som correctísimas.

Eu quero celebrar, em troca, a força de verdade que irradiam as palavras e os silêncios que nascem da comuniom humana com a natureza. E nom é por acaso que esta Cimeira da Mai Terra se realiza em Bolívia, esta naçom de naçons que se está redescubrindo a si própria ao cabo de dous séculos de vida mentida.

Bolívia acaba de celebrar os dez anos da vitória popular na guerra da auga, quando o povo de Cochabamba foi capaz de derrotar a umha todopoderosa empresa de Califórnia, dona da agua por obra e graça dum governo que dizia ser boliviano e era mui generoso com o alheio.

Essa guerra da auga foi umha das batalhas que esta terra segue librando em defesa dos seus recursos naturais, ou seja: em defesa da sua identidade com a natureza.

Hai vozes do passado que falam ao futuro.

Bolívia é umha das naçons americanas onde as culturas indígenas soubérom sobreviver, e essas vozes ressoan agora com mais força do que nunca, a pesar do longo tempo da perseguiçom e o despreço.

O mundo enteiro, atordoado como está, perabulando como cego em tiroteio, teria que sentir essas vozes. Elas ensinam-nos que nós, os humaninhos, somos parte da natureza, parentes de todos os que tenhem pernas, patas, asas ou raízes. A conquista europeia condenou por idolatria aos indígenas que viviam essa comuniom, e por acreditar nela fôrom açoutados, degolados ou queimados vivos.

Desde aqueles tempos do Renascimento europeu, a natureza converteu-se em mercadoria o em obstáculo do progresso humano. E até hoje, esse divórcio entre nós e ela tem persistido, chegados ao ponto que ainda hai gente de boa vontade que se comove pola pobre natureza, tam maltratada, tam magoada, mas vendo-a desde afora.

As culturas indígenas vem-na desde dentro. Vendo-a, vejo-me. O que contra ela fago, está feito contra mim. Netal encontro-me, as minhas pernas som tamém o caminho que as anda.

Celebramos, pois esta Cimeira da Mai Terra. E ogalhá os surdos nos escuitem: os direitos humanos e os direitos da natureza som dous nomes da mesma dignidade. Volam abraços desde Montevideu.



Eduardo Galeano, escritor e jornalista, alma crítica de América do Sul e figura egrégia do movimento anti-imperialista internacional. Entre os seus escritos mais conhecidos internacionalente: a trilogia Memoria del fuego (1986), El fútbol a sol y sombra (1995), Las venas abiertas de América Latina (1971), Patas arriba. La historia del mundo al revés (1999) e mais recentemente Espejos, una historia casi universal.

Bolívia: um novo movimento contra a mudança climática

Naomi Kleim, artigo tirado da siguinte ligaçom - a traduçom é própria.


Cochabamba, Bolívia. Eram as 11 da manhá e Evo Morales transformou o estádio de futebol numha gigantesca sala de classes, e reuniu umha variedade de objectos de utilaria: pratos de cartom, copos de plástico, impermeáveis desbotáveis, xícaras feitas a mao, pratos de madeira e coloridos ponchos. Todos jogárom un papel para demonstrar um ponto principal: para luitar contra a mudança climática necessitamos recuperar os valores dos indígenas.

No entanto, os países ricos tenhem pouco interés em apreender estas liçons e, pola contra, promovem um plano que, no melhor dos casos, incrementaria a temperatura global promédio em dous graus centígrados. Isso implicaria que se derreteram os glaciares dos Andes e do Himalaia, dixo-lhe Morales aos milheiros de pessoas reunidas no estádio, como parte da Conferência Mundial dos Povos sobre a Mudança Climática e os Direitos da Mai Terra.* O que nom necessitava dizir é que nom importa o sustentavelmente que elixa viver o povo boliviano, pois nom tem o poder para guardar os seus glaciares.
A cimeira climática em Bolívia tivo os seus momentos de ledícia, levidade e absurdo. Porém, no fundo, sente-se a emoçom que provocou este encontro: raiva contra a impotência.
Nom hai por quê surprender-se. Bolívia está no meio dumha dramática transformaçom política, umha que nacionaliçou as indústrias chave e elevou como nunca antes as vozes dos indígenas. Mas no que se refire a sua crise existencial mais apremiante –o facto de que os seus glaciares se derretam a um ritmo alarmante, o qual ameaça o subministro de auga em duas das principais cidades-, os bolivianos nom podem mudar de por si o seu sino.
Isso deve-se a que as acçons que provocam o derretimento nom se realizam em Bolívia, mas nas autoestradas e as zonas industriais dos países fortemente industrializados. Em Copenhague, os dirigentes das naçons em perigo, como Polívia e Tuvalu**, argumentárom apaixoadamente a prol do tipo de reduçons das emissons de gases que poderiam evitar umha catastrofe. Amavelmente dixérom-lhes que a vontade política no Norte simplesmente nom existia. E mais: Estados Unidos deixou claro que nom necessitava que países pequenos como Bolívia foram parte dumha soluçom climática. Negociaria um acordo com outros emissores pessados a orta fechada e o resto do mundo seria informado dos resultados e convidado a assinar, o que é precisamente o que ocorreu com o Acordo de Copenhague. Quando Bolívia e Equador recusárom aprová-lo em automático, o governo estadounidense recorto a sua ajuda climática a 3 milhons e 2'5 milhons de dólares, respectivamente. Nom é um processo de balde, explicou Jonathan Pershing, negociador climático ianque. (Aqui está a resposta para qualquer um que se pergunte por quê os activistas do Sul rejeitam a ideia do apoio climático e, em troca, demandam o pago de dívidas climáticas). A mensage de Pershing era calofriante: se és pobre, nom tés direito a priorizar a tua própria sobrevivência.
Quando Morales convidou aos movimentos sociais e defensores da mai terra, científicos, académicos, advogados e governos, a vir a Cochabamba a um novo tipo de cimeira climática, foi umha revolta contra esta sensaçom de impotência, foi umha tentativa para construir a base de poder em torno ao direito a sobreviver.
O governo boliviano arrincou as discusons propondo quatro grandes ideias: que se deveria outorgar direitos à natureza, que protejam da aniquilaçom aos ecossistemas (umha declaraçom universal dos direitos da mai terra); que aqueles que violem esses direitos e outros acordos ambientais internacionais deveriam enfrentar conseqüências legais (um tribunal de justiça climática); que os países pobres deveriam receber vários tipos de compensaçom por umha crise que eles enfrentam, mas tivérom pouco que ver em criar (dívida climática), e que deveria existir um mecanismo para que a gente no mundo exprima os seus pontos de vista sobre estes temas (um referendo mundial dos povos sobre a mudança climática).
A seguinte etapa foi convidar à sociedade civil global a ir discutindo os detalhes. Instálárom-se 17 grupos de de trabalho e despois de semanas de discusom em linha reunírom-se durante umha semana em Cochabamba, com o fim de apresentar a suas recomendaçons finais ao cabo da cimeira. O processo é fascinante, mas longe de ser perfeito (por exemplo, como assinalou Jim Shultz de Democracy Center, ao parecer, o grupo de trabalho sobre o referendo invirtiu mais tempo em discutir se engadia umha pergunta sobre abolir o capitalismo que discutindo como se lhe fai para levar a termo umha consulta global). No entanto, o entusiasta compromisso de Bolívia com a democracia participativa poderia ser a contribuiçom mais importante da cimeira.
Isto porque logo da debacle de Copenhague um tema de discusom tremendemente perigoso volveu-se viral: a verdadeira culpável do fracasso era a democracia em si. O processo da Organizaçom das Naçons Unidas (ONU), que dá votos com o mesmo peso a 192 países, simplesmente era demasiado difícil de manejar. Era melhor encontrar soluçons em grupos pequenos. Até as vozes ambientais de confiança, como James Lovelock, caírom na trampa: tenho a sensaçom de que a mudança climática pode ser um tema tam severo como a guerra, dixo-lhe a The Guardian recentemente. Quiçais seja necessário pôr à democracia em pausa durante um tempo. Porém na realidade som estes pequenos grupos, como o clube privado que forçou o Acordo de Copenhague, os que ocasionárom que perdamos terreno e debilitado os acordos existentes, que de por si som inajeitados. Em troca, a política de mudança climática levada a Copenhague por Bolívia foi redactada polos movimentos sociais mediante um processo participativo e o resultado final foi, até o momento, a visom transformadora e radical.

Com a cimeira de Cochabamba, Bolívia tenta globalizar o que logrou a escala nacional e convidar ao mundo a participar em redactar umha agenda climática conjunta, antes do próximo encontro sobre mudança climática da ONU, em Cancum. Em palavras do embaixador de Bolívia perante Nacions Unidas, Pablo Solón, a única cousa que pode salvar a humanidade dumha tragédia é o exercício da democracia global.
Se está no correcto, o processo boliviano poderia nom só salvar o nosso planeta que está quecendo, mas também as nossas democracias em vias do fracaso. Nom está mal o trato.

N.T.

* Pachamama na língua dos quéchuas e os aimara. É um culto muito importante com presená em Equador, Perú, Bolívia, o noroeste da Argentina, o norte de Chile e certas regions de Colômbia. O culto a Pachamama é massivo nas áreas rurais e pequenos lugares e vilas, topando-se tamém entre os migrantes andinos às cidades maiores, até em Buenos Aires e o sul da Argentina. Outro exemplo similar é o da cultura mapuche através da Ñike Mapu (Mai Terra em mapuche), com a diferença de que nom é umha deidade stritu senso, mas trata-se dum conceito mais amplo ao ser o mundo mapuches na cosmografia e a interacçom do mapuche nel, dentro das crenças religiosas mapuches.
** O Tuvalu é um estado da Polinésia formado por um grupo de nove atóis, antigamente chamado Ilhas Ellice. O nome deve-se a que "tuvalu" significa oito na língua dos tuvalus, já que um dos atóis fica sem habitar. Tem fronteiras marítimas com o Kiribati, a norte e nordeste, com o território neozelandÊs de Tokelau, a leste, com Samoa, a sudeste, com Wallis e Futuna - da França- e a sul com as Fiji. A oeste o vizinho mais próximo som as Ilhas Salomom. A maior ilha do atol é Fongafale onde hai quatro popoaçons, sendo Vaiaku onde se estabelece a sé do governo, se bem oficialmente a capital segue em Funafuti - atol formado por 30 ilhas-.

Naomi Klein é autora de No Logo: Taking Aim at the Brand Bullies e mais recentemente Fences and Windows: Dispatches From the Front Lines of the Globalization Debate. O seu último livro é A Doutrina do Shock.

25/04/2010

Encol da crise: diagnose e alternativas (II)

DIAGNOSE DA CRISE (II)

XOSÉ MANUEL BEIRAS

Artigo tirado deste site.


Concluía o día pasado dicíndovos que estamos mergullados nunha crise sistémica que atinxe á totalidade da estrutura global e a cada unha das suas instancias ou esferas. Despréndese desta aseveración, se concordamos con ela, que a crise maniféstase e opera nos diferentes níveis estruturais do actual sistema-mundo -ou sexa, non só na base económica do sistema: non é só unha crise económica. Compre engadirmos agora que nen sequer se cinxe ao espazo socio-humano abranguido polo sistema mundializado, senón que sobarda os seus lindes e incide na sua contorna "natural": nos ecosistemas que artellan a biosfera do planeta Terra. A crise, xa que logo, reviste ou proxéctase asemade en varias diferentes dimensións. Resulta así unha desconcertante fasquía polimorfa e mutante da crise, como a das imaxes proxectadas polos espellos nun caleidoscopio, que dá a impresión de se tratar dunha serie de crises diferentes e mesmo inconexas -cando en rigor son, insisto, só diferentes níveis nos que opera e dimensións nas que se proxecta unha soa e mesma crise sistémica: a "crise unha e trina" á que irónicamente me teño referido xa nalgunha ocasión, parodiando o enigma teolóxico da trinidade. Mais cómpreme pasar do sarcasmo á necesaria espricación deses fenómenos.


A empezar polo lerio dos niveis estruturais. Vexámolo. O actual sistema-mundo constitue un conglomerado de formacións sociais artellado polo modo de produción capitalista, que ocupa nel unha posición e un rol dominantes. É neste senso no que se pode denominar capitalista ao sistema no seu conxunto, inda que en boa parte do seu espazo e das formacións sociais que o integran esteñan vixentes modos de produción non-capitalistas ou pre-capitalistas -primordialmente na periferia do sistema, mais non só: dende formas de comunismo primitivo en povos indíxenas, sociedades campesiñas con economías de susbsistencia, autoconsumo, troco ou produción simples de mercadurías, até formas socialistas ou de transición, con propiedade colectiva, cooperativa ou mesmo estatal dos medios de produción, e así seguido. En todo caso, para o que nos ocupa, o fenómeno determinante é o rol dominante do modo de produción capitalista, que impón o seu modelo de acumulación e de desenvolvemento a tódolos demáis existentes e ao conxunto de formacións sociais que integran o sistema-mundo. Eis por qué a crise do capitalismo se propaga, con diversas formas e degraos de incidencia, por práticamente tódolos recantos do sistema.
Ora, cada formación social -e portanto o proprio sistema- está estruturada en tres instancias ou níveis cardinais: a económica, a ideolóxica e a xurídico-política. A primeira constitue a "base real" da sociedade; as outras duas son as suas superestruturas. O artellamento das tres require que, entre elas, exista unha necesaria "correspondencia" -é dicir, unha indispensábel congruencia ou compatibilidade entre as suas respeitivas índoles: así, unhas formas feudais de aparellaxe ideolóxica e política son congruentes con relacións de servidume no modo de produción, pero incompatíbeis coas de traballo asalariado proprias do capitalismo, que require forza de traballo "libre" nun "mercado laboral". E outro tanto debe acontecer dentro da base económica, entre a forma e nível de orgaización das forzas produtivas -recursos, forza de traballo e medios de produción- e a das relacións de produción e distribución dos produtos, ou tamén entre a esfera da produción e a da circulación: así, o escravismo nas relacións de produción é incompatíbel co "industrialismo" ou "civilización industrial" na orgaización das forzas produtivas -e por iso, primordialmente, estralou a guerra de secesión nordeamericana, que non o foi por establecer unha igualdade racial que os negros aínda tardarían cen anos en conquerir, malia que os "federais" do norde industrial se abandeirasen coa ideoloxía "abolicionista" como coartada para facérenlles a guerra aos "confederais" do sul escravista. Mais disimulade por este impremeditado excurso peripatético.
Voltándomos ao rego, o caso é que a crise actual enxéndrase e estoura na instancia económica ou "base real" das formacións sociais do centro do sistema, pero, ademáis de esparexerse por todo il, implica e atinxe tamén ás duas instancias superestruturais, tanto a xurídico-polìtica -marco legal e aparello de estado- canto a ideolóxica -como o ideoloxema neo-ultra-liberal e o famoso "pensamento único", cos seus coñecidos mecanismos estupefacientes e de coerción ideolóxica. Instancias que, compre sinalalo, resultan implicadas tanto no impacto e "xestión" da crise dende que estoupa coma tamén xa na sua xénese e "deflagración" . Relembremos por caso, tocantes á instancia ideolóxica, a teimuda e sórdida angueira dos think tanks reaccionários da escola de Hayek e M.Friedman -os "evanxelistas do mercado", en certeira metáfora sarcástica de Keith Dixon- e dos ideólogos da xenocida "doutrina do shock" imperial. E, no que fai á instancia política, a fabricación do "pinochetazo" polo tandem Nixon-Kissinger, a supresión unilateral da convertibilidade do dólar, a imposición de tiránicos reximes militares ou de "transicións á española" -por só darmos mostras dos anos setenta.
Pero non se non trata só da implicación das instancias superestruturais no proceso crítico. O máis relevante é que ese proceso de crise desencadeado na base económica, ao cabo, pon en crise tamén ás superestruturas ideolóxica e política. Non outra cousa é o fracaso e o descrédito do modelo neo-liberal. Tampouco outra cousa é a grave crise de lexitimidade e representatividade "democrática" na que se achan as institucións do chamado "Estado de dereito", ou a demolición do Welfare-state e sustitución do "Estado providencia" polo "Estado penitencia" -en sarcasmo esta vez de Loïc Wacquant no seu lúcido e valente ensaio As prisións da miseria. Na trastenda destes fenómenos está a operarse un proceso que, de proseguir, conduce á crise da xa referida "correspondencia necesária" entre base económica e superestruturas ideolóxica e política -que, por certo, ten como correlativo fenómeno crítico o percibido polo común como "divorcio" entre a "sociedade civil" e o aparello de poder político. Históricamente, se a correspondencia entre base e superestrutura acada o punto límite da creba, ábrese unha transición sistémica de longa duración, na que se "remudan", digámolo así, as tres instancias das formacións sociais, e non só o modo de produción stricto sensu. Na historia europea, a transición do feudalismo ao capitalismo propriamente dito durou cousa de tres séculos (do Renacemento ao "século das luces") -ou inda máis se, como fan os seguidores de Braudel, situarmos o comenzo xa nas florecentes cidades-estado italiáns do XIII-XIV. Mais, en troques, no Xapón durou apenas meio século, só que arrincou moito máis tarde, ben andado xa o s. XIX -como elucidara o grande Paul Baran, hoxe cáseque esquecido.
Eu non son tan ousado como pra diagnosticar que estamos mergullados nunha transición desa caste. Mais si que ouso considerar evidente que o modelo de Estado "democrático" deseñado pola ilustración europea do XVIII e nacido coas subseguintes revolucións liberal-burguesas, o modelo "correspondente" á consolidación e expansión do capitalismo, ese modelo, digo, está obsoleto, deturpado e en proceso de descomposición. De aí que o esteñan tamén a maioría dos reximes políticos instalados no edificio institucional dese mesmo modelo. E tamén concordo con Antoni Domènech cando fala de "re-feudalización" na instancia ideolóxica e boa parte das pezas da xurídico-polìtica -e portanto na sua acción sobre a conciencia social e modos de relación da cidadanía, reconvertida en súbdita, ou "suxeita" por elas. De xeito que as superestruturas das formacións sociais que integran o actual sistema-mundo tamén están en crise. Mais, e qué dicirmos das construídas após a IIª Guerra Mundial para o "goberno" da "comunidade internacional" e o mantemento da paz universal?. Acaso non están en crise a ONU e demáis institucións e orgaísmos correlativos?. Podería a crise sistémica derivar en caos, como está a suceder, se esas superestruturas globais non estivesen en crise tamén elas?
Mais abonda por hoxe. Xa vos decatades que isto ven ser como tirar cereixas dun cesto: saen encerelladas unhas nas outras -e compre parar, sob pena de indixestión.

24/04/2010

Um mundo (nacionalista) feliz


Brave New World é o título do romance Aldous Huxley que aparecera em 1932, título tomado do acto V de A tempestade de Shakespeare. Impestivos estám no lamazal os que vivem empoleirados num mundo (nacionalista) feliz:



"Retorna o sono. Vólvome deitar. Recobrei o sosego. Os menestrais de onte fican no lamazal político dos miserábeis -coas miñocas e os insectos. Os bois de tiro xa non pasan por alí. Os menestrais -mosquitos todos, moscas verdes e tabaos- morrerán de inanición. Confinados no illó".




Nava novo em Elsinor... aram os bois e chove. O mundo feliz contenta-se com o controlo do aparato. "Es preferible el camino a la posada", invertendo os termos claro está. Nom quer transformar o país, nom tem projecto de país. Nem tam sequera é quem de ver afora das instituiçons das siglas dos seu empório enfastiante: UPG, S.L., que se di marxista, leninista e nom sabemos quanto mais, mas que é coma o café sem café que elaborava um célebre personage dumha série da TVG. Aquel fazia-o com as paras das patacas, estes fam-no com erotismo. "Con la Iglesia hemos topado, amigo Sancho."

"Noutras palabras: apostei por que ninguén dispararía contra outro/a camarada nen ninguén mataría ao mensaxeiro. Trabuqueime. E fun apenas unha das vítimas ou, millor dito, "casualties" producidas polos "danos colaterais" da extraña e estúpida guerra irresponsábelmente terceiro-mundista que alí se desatou entre diversos grupos de cadros -poisque a militancia de base non encadrada en sectas foi público estupefacto que apenas tivo opción a outra cousa que exercer o voto. Foilles pior a moitos camaradas que se esgazaron a pel e máis a alma nun denodado esforzo por tenderen unha vez tras outra pontes e varandas -ai, "se o mar tivera varandas"!- e que axiña eran derrubadas enriba diles. E, sobre todo, foille moito pior á militancia máis enxel e inocente. Saímos dese proceso nas piores condicións imaxinábeis cando o encetáramos.
"Agora, compre reflexionar. Reflexionemos, pois. Matinemos e falemos en procura dos acordos precisos. Está en xogo a supervivencia mesma do único instrumento político xenuino de que dispón a cidadanía que integra esta nosa nación. Somos responsábeis perante ela. E xa comezou a facer acenos de que está disposta a esixirnos esa nosa responsabilidade e facernos pagar se a defraudamos. Non valen excusas nen coartadas. Non hai caudillo nen tribuno que valla, di a oración profana dos escravos da terra revoltados. En ningures, nen fóra nen dentro do Nós. Só de Nós, do coraxe e lucidez de todos nós depende."
Así, remataba a suposta mensaxe póstuma de Snowball. Era un enigma. O único certo é que, polo que se bota de ver no desenlace do Animal Farm, ninguén lle fixera caso -ou se alguén llo fixera, non vivira para contalo. Fun para a cama morto de sono, e soñei con Benxamin, o burro sabio da fábula: tiña o rostro de Orwell, e a muller de Koestler dicíalle sorrindo "Donkey George"...
Aquel instrumento de emancipaçom social e nacional pioneiro na Europa, modelo para o BE e Die Linke, arde enquanto Dom Celidónio lhe ordena a banda que toque outra tocata: "Aquellos valientes coroneles". Ladran, luego cabalgamos, amigo Sancho...

23/04/2010

IIIª Assembleia do Encontro Irmandinho

De cara a esta terceira asemblea dende o Encontro Irmandiño queren abrir un proceso comarcal aberto no que poidan participar activamente todas as persoas que o desexen e que culmine no mes de xullo cunha gran xornada nacional de debate onde teñan voz tanto militantes como simpatizantes. Para Beiras é vital un proceso moi aberto para deseñar novas liñas de acción política.
Para o ex voceiro nacional do BNG a base social do nacionalismo está desencantada co momento político que se vive: "A xente está ou moi vencida, ou moi desesperanzada ou con moita carraxe", sentenzou. Fronte a isto, volveu dar a mesma receita: que se “retome a interrelación” cos movementos sociais algo que ao seu xuízo é imprescindíbel para "reosixenar o nacionalismo". A este respecto, Beiras sinalou que "levabamos tempo avisando no BNG que non se podía perder o contacto cos movementos sociais".
Dende o Encontro Irmandiño volveron subliñar a necesidade de que o Bloque convoque unha asemblea ordinaria, algo que non se fai dende 2006 (a de 2009 foi extraordinaria) a pesar de que os estatutos establecen un período máximo entre cónclaves de tres anos: "Se a organización non cumpre as súas propias normas, mal imos".

Beiras, que na conferencia de prensa en Compostela estivo acompañado por Mario López Rico, sostivo que a vindeira asemblea nacional do Encontro Irmadiño é un paso máis no diálogo cos colectivos sociais que iniciaron o ano pasado e que culminou, como explicou, na chamada Rolda da Rebeldía celebrada na capital de Galiza a finais de xaneiro.


"Hai un proceso brutal de recolonización do país. Que está a facer o BNG?"
Na quenda de preguntas Beiras arremeteu contra o goberno autonómico ao que tildou de "reaccionario" e de estar a facer "un proceso brutal de recolonización do país. Que está a facer o Bloque fronte a isto? O BNG ten un despiste monumental e perdeu o norte que non é outro que o proceso de emancipación nacional e social".

Con respecto á elaboración de listas de cara ás vindeiras eleccións municipais, Beiras asegurou que "nós non imos entrar nunha competición por listas". E acto seguido demandou que as mesmas plasmen a pluralidade interna e que se fagan cun principio de capacidade dos candidatos e "non por pertencer a
lobbies".
Fusión das caixas e voto emigrante
Beiras reiterou as súas reservas a un proceso de fusión de caixas e lembrou a destrución de emprego que levará aparellada. Á vez, censurou a un "aparato político convertido en espectador mudo sen dereito a falar do que están a negociar as direccións das caixas. Non se pode estar de convidado de pedra en xeral e xa non digamos o presidente. A oposición non existe, isto é o deserto".



En canto ao voto emigrante, o dirixente nacionalista asegurou que o problema non é a participación dos residentes no exterior senón a "farsa absoluta" e o "pucheirazo" que se dá no proceso. Para Beiras isto correxiríase facilmente coa obrigatoriedade do voto en urna nos consulados.
http://www.encontroirmandinho.org/

22/04/2010

Por que non banca pública?

Por Vicenç Navarro (artigo tirado de aqui). O artigo original em castelhano pode-se consultar aqui.

A nacionalización da banca ou a creación dunha banca pública é un dos grandes tabús, dos moitos que hai na cultura política e mediática do país, que debería desaparecer para permitir un auténtico debate sobre a situación bancaria en no Estado español...

Unha nova que seguro que vostede non lería nos maiores medios de información do país é a do movemento que está ocorrendo no EEUU (centro da crise financeira), que goza de gran apoio popular, que propón a creación de bancas públicas, tanto a nivel estatal como federal. En parte, iso débese ao enorme descrédito que a banca privada ten naquel país.

Segundo as últimas enquisas, os bancos están entre as institucións menos valoradas na sociedade estadounidense. A pesar das enormes cantidades de fondos públicos que os bancos recibiron, aínda hoxe é difícil para as pequenas e medianas empresas, así como para a maioría da cidadanía, conseguir crédito bancario. En lugar de utilizar os fondos públicos para cumprir esta función social (o ofrecemento de crédito), os grandes bancos utilizaron tales fondos para continuar cos seus comportamentos especulativos (que causaron a crise financeira) e para incrementar aínda máis os salarios e bonos dos seus directivos. Como consecuencia, a hostilidade da poboación cara aos bancos acentuouse aínda máis.

Pero a outra razón de que haxa un número crecente de representantes políticos que, presionados pola opinión popular, estean propondo crear unha banca pública é a experiencia positiva da banca pública naqueles estados que teñen bancos estatais públicos. Deles o máis coñecido é o Banco Estatal do estado de North Dakota, fundado hai noventa e un anos, cun capital inicial baseado nos impostos e taxas estatais que continúan sendo a fonte principal daquel banco.

Segundo as súas regras internas, tal banco estatal ten prohibido realizar investimentos en actividades especulativas, esixíndoselle, ademais, que invista no propio estado de North Dakota. Foi un dos bancos máis solventes e menos afectados pola crise financeira que sofre o país. E tamén un dos poucos bancos que preveu a burbulla inmobiliaria, evitando as hipotecas lixo (subprime mortgages) na súa práctica bancaria. Tal como escribe Ellen Brown no seu libro ‘Web of Debt’, tal banco público é responsábel de que aquel Estado non sufra a escaseza de crédito que sufriron a maioría de estados en EEUU.

Iso explica que moitos outros estados están pensando en constituír bancos públicos similares. Apareceu, así, unha vaga de propostas nos parlamentos estatais de varios estados (Vermont, Virginia, Michigan, Washington State), que propón o establecemento de bancos estatais públicos. Todas estás propostas responden ao cansazo da poboación cara ao sistema bancario actual e a utilización de fondos públicos para salvalo. Reproducindo o mesmo enfado xeral, varios parlamentos estatais prohibiron que os fondos do estado se invistan en bancos de investimento (Investments Banks) que conseguen os seus beneficios a base de investimentos especulativos que poñen en risco os fondos públicos.

E outro dato importante, que tampouco lería nos maiores medios de información e persuasión españois é que se empezan a escoitar voces en EEUU que están pedindo tamén que se estableza un banco público, voces que están atopando unha gran receptividade na rúa, e mesmo nalgúns sectores do Congreso (que non foron captados aínda polos lobbies da Banca).

Entre estas voces está a do Premio Nobel de Economía, Joseph Stiglitz, que nun artigo recente na revista The Nation indicaba que os 700.000 millóns de dólares que se gastaron para axudar a banca, deberían terse utilizado en establecer unha banca pública, evitando así que EEUU tivese o enorme problema de crédito que ten hoxe. Segundo Joseph Stiglitz este diñeiro podería supor a creación dun Banco Público, a partir do cal podería terse alcanzado unha actividade crediticia de 7.000 billóns de dólares (seguindo o criterio de seguridade de 1 a 10, mesmo máis conservador que o de 1 a 30 que foi a práctica bancaria xeneralizada). Tal cantidade significa unha capacidade moito maior que a que hoxe necesita o país. Concluía Stiglitz, no seu artigo, que a axuda á banca non fora, en realidade, unha medida para facilitar o crédito, senón unha intervención pública co obxectivo primordial de salvar os banqueiros e os accionistas.

Estas novas que vostede non lería nos maiores medios de información e persuasión españois son moi relevantes para o Estado español tamén, pois a mesma pregunta debería facerse no noso país. Por que o goberno español investiu tanto diñeiro en salvar a banca, con tan poucos resultados en facilitar o crédito? A poboación, así como os medianos e pequenos empresarios (os empresarios que crean máis emprego no sector privado no Estado español), teñen enormes dificultades en conseguir crédito e iso a pesar de que o goberno investiu enormes cantidades en axuda aos bancos. Sería unha medida moito máis eficaz e equitativa se o Estado español (co diñeiro investido en axudar os banqueiros e os seus accionistas) crease un banco público, tal como, cónstame, o Sr. Stiglitz suxeriu ás autoridades españolas sen que, polo visto, tivese ningunha resposta.

E o feito de que non o fixesen é, unha vez máis, consecuencia do gran poder da banca no Estado español (o poder fáctico de maior forza no noso país), liderado polo Banco de España, cuxo gobernador (nomeado polo goberno socialista) é o máximo expoñente do pensamento liberal, pensamento que causou a enorme crise actual, e aínda hoxe domina a cultura económica do país. A nacionalización da banca ou a creación dunha banca pública é un dos grandes tabús, dos moitos que hai na cultura política e mediática do país, que debería desaparecer para permitir un auténtico debate sobre a situación bancaria en no Estado español, que, en contra do que promove a sabedoría convencional no país, necesita realizar cambios moi substanciais nos seus sistemas de propiedade, de goberno e de funcións.

18/04/2010

Encol da crise: diagnose e alternativas (I).

Xosé Manuel Beiras
Podemos, xa que logo, chantar uns primeiros poios no noso roteiro cara unha diagnose global. Un: esta crise non é conxuntural, senón estrutural. Dous: a crise financeira non é máis ca unha manifestación desa profunda crise estrutural. Tres: a crise non comezou hai dous anos, co rebentón de Wall Street, senón hai sete lustros, a comenzos dos setenta. Catro: non está en crise só un modelo de xestión do sistema, senón o proprio sistema-mundo -en expresión de Wallerstein, Arrighi e os demáis que seguiron os pasos do grande Fernand Braudel, o definidor e analista da longue durée no proceso histórico de xestación, expansión e mundialización do capitalismo dende o albor da idade moderna: da sua conversión no modern world economic system, no sistema-mundo dentro do ciclo da modernidade. Estamos mergullados, portanto, nunha crise sistémica que atinxe á totalidade da estrutura global e a cada unha das suas instancias ou esferas: eis o que compre analisar para acadarmos unha diagnose certeira e completa.

* Ler o artigo completo aquí.

16/04/2010

Contra o consenso indolente, Francisco Louça



“Sou candidato porque quero acabar com o consenso indolente: o consenso é o pai de a irresponsabilidade”.

Artigo tirado de aqui.






Houvo hai pouco tempo um primeiro ministro que, confrontado perante qualquer dificuldade, desalentava com um “que é que querem vocês, é a vida”. Esta indiferença parece tomar corpo no país: “é a vida” tornou-se em disculpa para o atrasso, para a pequenice, para a injustiça. O inevitável desarma o urgente, a rotina massacra modernizaçom; “é a vida”. É o refrám dum país parado.


E está de facto parado. Trinta anos despois do 25 de Abril, os dous grandes impulsos de transformaçom desse tempo parecem esgotados: a democratizaçom, que nasceu com a revoluçom, e a normalizaçom, que se consolidou com a integraçom europeia. A democracia está sendo corrompida polo privilégio, e Europa, pola renúncia.


O filósofo José Gil chamou a estas abdicaçons a cegueira, resultado dumha democracia de consenso de baixa intensidade sem o reconhecimento e o combate das diferenças, e mostrou como é que a restriçom do espaço público pola onipresença do populismo, tanto político como da indústria do lazer, evapora a democracia. Onde nom hai soluçom, hai espectáculo: “é a vida”. Esta cegueira é o consenso.


Som candidato porque quero acabar com o consenso indolente: o consenso é o pai da irresponsabilidade. Porque pagamos hoje um preço imenso por esta cegueira triste: o feche do regime político e a podredume do regime social som os resultados destes longos anos de preponderáncia do bloco central.


A podredume é a tragédia mesmo de Portugal, e a responsabilidade é da elite que nos domina: quem manda, nom sabe, e quem pode, nom quere. Esta elite viviu do delírio colonial durante séculos, fixo umha guerra que apenas podia perder, habituou-se a ser umha aristocracia de privilégios e concebe agora como sempre o Estado como um cam-de-guarda dos seus poderes e negócios.


Os antigos capitans de indústria do Imperio som hoje barons das finanças: com o seu chefeado nom se aprende, especula-se; nom se produze, vende-se; nom se inventa, compra-se: “É a vida”. O ouro de Brasil acabou-se, os fundos comunitários estám-se acabando e Portugal é o país com maior desigualade entre os mais ricos dos mais ricos e os mais pobres dos pobres, com um desemprego real que atinge 10%, o terceiro número maior de trabalhadores precários de Europa e a maior dívida externa (a empresa portuguesa que mais exporta é estrangeira e pode ir-se todavia em 2011). A um tempo, a corrupçom converteu-se num modo de vida, e 20% da economia nom paga impostos: “é a vida”.


Por enquanto, a verdade das contas que interessam é ocultada pola espiral do crédito: nos últimos dez anos, o endividamento das famílias passo de 40% a 118% em términos do seu rendimento disponível. O futuro vai ser pagado em prestaçons por quem apenas tem já.


Nom nos enganemos: Portugal está-se sumergindo num ciclo de decadência e empobrecimento, e o único problema da democracia é saber como se ajuntam as energias sociais para invertir esta situaçom e salir do atrasso.


O bloco central governante decata-se perfeitamente deste ciclo de crise e por isso quer impor o totalitarismo do discurso do consenso e a um tempo esganar a democracia com o populismo nos círculos uninominais: o mais grave atentado que se podia conceber contra o pluralismo e a verdade das eleiçons.


Som candidato porque é indispensável que haja quem luite contra esta irresponsabilidade. Som candidato porque cumpre que alguém se oponha ao salve-se quem puder que se está instalando em todos os níveis entre os poderosos: os administradores públicos concedem-se a si próprios os maiores ordenados e dádivas de Europa, e temos o espectáculo obsceno de governantes que, sendo jubilados antecipados, queren aumentar a idade de jubilaçom para os demais. O tráfico de interesses entre governantes e empressários é simbolizado escandalosamente polo transformismo identitário das figuras que som ora umha cousa ora al outra, como se todo for o mesmo.


Som candidato para combater esta política de podredume. Som candidato para apresentar alternativas movilizadoras, para trair umha nova visom ao país e, em particular, ao fim de elegir como branco da acçom cinco grandes objectivos para os próximos cinco anos:


O primeiroc objetivo é criar um sistema de protecçom social universal e justo. Só esta determinaçom permitirá responder à questom mais urgente do país, que é a do desemprego de mais de meio milhom de homes e mulheres. Quero apresentar alternativas para a protecçom social tamém a longo prazo, porque o sistema que existe hoje nom é nem universal nem justo; nem tan sequer sustentável. Hai hoje mais de 2,5 milhons de pensionistas e apenas 1,7 activos por cada pensionista. Antecipa-se por isso que o fundo total para a segurança social se eleve de 12,9% do PIB em 2000 a 16,1% em 2007. A proposta de reduzir este coste elevando a idade de jubilaçom é estremadamente injusta: A esperança meia de vida dos hombres é agora de 74 anos e o aumento da idade de jubilaçom condenaria a umha vida enteira de cotizaçons e a quase nengumha prestaçom de jubilaçom.


Nos próximos cinco anos, é precisa umha mudança radical do sistema de financiamento para garantir umha segurança social igual para todas e todos, utiliçando umha parte dos impostos e alterando a regra da cotizaçom para que as contribuiçons das empresas sejam proporcionais ao valor engadido.


Nos próximos cinco anos, precisamos dar grandes passos na convergência da segurança social, começando por abaixo, polos mais pobres, e criando umha pensom mínima nacional ao nível do salario mínimo: essa opçom custa 0,6% do PIB e é financiável mediante um aumento do IVA.


O segundo grande tema para os próximos cinco anos é a reforma da justiça. Com um milhom de processos pendentes, con processos arrastrados durante vinte anos, com comareiros tan elevados, que impedem que os pobres cheguem aos tribunais, com mais presos que a meia europeia, sendo quarta prepventivos, a justiça nom é um pilar de liberdade. Tem que chegar a sê-lo. Em cinco anos, é preciso salvar à justiça., criando as condiçons para priorizar a luita contra a corrupçom. Para umha justiça accesível e eficaz, e para reduzir o prazo máximo de prisom prepventiva polo menos num ano.


O terceiro grande debate é sobre o renacimento cultural que o país necessita. Instalou-se a ideia de que a cultura é um luxo, e de que a maioria dos portugueses se contenta com lixo. Nada mais falso: a exposiçom de Paula Rego tivo 157 mil visitantes e vendérom-se cinco milhons de livros da colecçom “Mil folhas” (Periódico Público). O país exige e deve de ter a libertade dumha criaçom cultural viva, assi como um apoio empenhado na criaçom de públicos e na existência de diversidade, o que contrsata vivamente com a actual inversom estatal em cultura, que continua por baixo de 1% do orçamento.


A quarta grande questom é a revoluçom ambiental. Portugal continua a ser o país com maior desperdício energético da Europa dos 15, o país onde se perde 40% da auga canalizada. Por volta da metade dos portugueses nom é atendida por estaçons de tratamento de augas residuais. Pior ainda: Portugal já está um 14% por cima do limite de emissom de gases de efeito estufa fixado polo protocolo de Kioto. Nada se tem feito ao respeito. O estado é ambientalmente irresponsável e nom haberá modernizaçom sem um troco drástico no comportaento público e privado em relaçom ao meio ambiente.


Finalmente, a quinta grande questom que quero suscitar é Europa. O silêncio consensuado sobre a Uniom Europeia esconde um déficit tremendo e um impasse preocupante. Agora bem; é en Europa e com Europa como podemos e devemos determinar políticas coerentes à hora de atingir o pleno emprego, assi como na cooperaçom para a investigaçom científica, na educaçom e na criaçom de estándares mínimos de protecçom social. A UE vai hoje numha dirección contrária, e nom outra é a razom profunda da sua crise: Com a adesom de Blair à grande mentira da guerra imperial no Iraque, e agora com a coligaçom CDU-SPD na Alemanha, é o liberalismo gananceiro o que destrói Europa. É precisso derrotá-lo.


A minha candidatura serve para assumir responsabilidades em todos esses terrenos e para combater um estilo, um ambiente e umha política que nos di que o país está como está porque nom pode estar de outra forma. É o que nos vam a repetir os que repetem como candidatos. É o que vam repeter os que representam as políticas que provocárom as crise. A esses digo-lhes simplesmente que nunca mais me digam que nom se pode fazer nada, que “é a vida”, para justificar a renúncia e o consenso. Eu nom desisto.


Som candidato porque, para vencer, a esquerda precissa dum combate clarificador contra as causas da crise nacional, e nesta eleiçom, imos escolher entre grandes ideais para o país. É portanto um tempo de rigor e franqueza. Os ajustes de contas, as antipatias, as pequenas divisons nom merecem o respeito dos eleitores. Polo contrário, é tempo de un grande combate político em nome da esquerda socialista moderna contra o conservadurismo e a situaçom política dominante.


Para vencer, a esquerda tem que acreditar em seus valores: esses valores som a minha vida. Para vencer, a democracia precissa romper o consenso indolente: o combate contra a podredume é minha razom. Para vencer, a esquerda precissa de ideias fortes: é o que debatirei com todos os meus adversários.


Os eleitores escolherám quem vai à segunda volta, e esse é o sentido da minha candidatura: merecer a confiança de todas e todos quantos procuram por umha esquerda maioritária que queira vencer a condea ao atraso, que se enfrente com as elites dominantes, e que enjeite a lei da injustiça.


Esta nom é a campanha dumha soa pessoa: É todo um movimento socialista popular o que é convocado, é toda a esquerda plural a que é chamada. Aqui estou. Aqui estamos: “é a vida”. É a nossa vida, esta campanha de olhos nos olhos, com as pesoas que sofrem, que se inquedam, que se preocupam polos outros, que queren derrotar o cinismo, a incompetência, a explotaçom e a desigualdade.






Francisco Louça é deputado do Bloco de Esquerdas, economista, professor da Universidade de Lisboa, onde dirige a Unidade de estudos sobre a complexidade na economia.