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16/12/2013

A esquerda tem de rejeitar esta Europa construída sem democracia

Notícia tirada do portal Esquerda.net (aqui), ligado ao partido da esquerda lusa BE (Bloco de Esquerdas).

O congresso do Partido da esquerda europeia fez uma homenagem a Miguel Portas com a apresentação de um vídeo com imagens e discursos do dirigente do Bloco que passou os últimos anos da sua vida como deputado europeu e como um dos impulsionadores do PEE
 
O Bloco esteve presente no Congresso do Partido da Esquerda Europeia (PEE) com os seus delegados e delegadas e participou na própria gestão e preparação do Congresso.

Marisa Matias, sendo vice-presidente do Partido, foi responsável pela apresentação do documento político do congresso.

Muita coisa mudou na Europa desde que a atual presidência foi eleita em 2010: o aparecimento da Troika, a primavera árabe, a onda de austeridade, o aumento da divergência norte sul, a chantagem da divida, o aumento do desemprego, da pobreza, da desigualdade, cada vez mais privatizações em toda a Europa, ataque desmesurado aos serviços públicos, cada vez maior esmagamento dos salários e das pensões. Ao mesmo tempo todas as garantias foram dadas à especulação e ao setor financeiro.

O documento parte do aprofundamento da crise na Europa e do falhanço das políticas neoliberais em que a democracia tem sido uma das principais vitimas. O papel da esquerda europeia na refundação da Europa passa por políticas centradas no emprego e desenvolvimento social, ecológico e solidário. Deve haver uma emancipação dos povos face aos mercados financeiros e uma economia ao serviço da sociedade. É fundamental o respeito pela soberania popular e pela democracia para construir uma Europa de paz e cooperação entre os povos.

O documento aborda também a questão das eleições europeias e propõe a criação de uma frente unida contra a austeridade.
 
Segundo Marisa Matias, "A crise que poderia ter sido usada como uma oportunidade para criar um novo contrato social, foi antes usada para operar uma transformação profunda nas nossas sociedades. Mas ainda estamos a tempo de procurar construir esse novo contrato."
 
Luís Fazenda expressou a concordância geral da delegação do Bloco com o documento político apresentado, pela necessidade de se construir uma alternativa socialista para a Europa. Sendo cada vez mais evidente a ausência de respostas por parte das elites europeias e estando provado que a austeridade não é solução, é preciso ter um acordo alargado em toda a Europa que reconheça que este é um problema de todos e permita encontrar soluções comuns.

Nesta perspetiva, é preciso quebrar o enquadramento europeu para dar corpo ao mote do congresso. "Mudar a Europa" implica dizer não a esta Europa e tentar demoli-la para criar uma Europa da democracia, da paz e da justiça social.

Os culpados são o grande capitalismo e a banca, mas a Troika é neste momento a face mais visível da austeridade e o pacto orçamental é a sua concretização ao longo dos próximos anos. Defendemos a realização de um referendo europeu sobre o pacto orçamental que possa ser usado em toda a Europa para discutir a austeridade e mobilizar forças para as eleições europeias.

Para Luís Fazenda o principal e construir uma alternativa socialista para uma nova Europa.
 
Catarina Martins falou de uma Europa construída sem democracia, como uma fortaleza e ao serviço da finança. Para os povos europeus, sobretudo nos países periféricos, a promessa de uma Europa do desenvolvimento e da paz transformou-se na Europa da recessão e da desigualdade.

Esta Europa destrói as conquistas feitas pelos trabalhadores ao longo do século XX. Por isso este não é um problema de Portugal, da Grécia ou de Espanha: é um problema de todos os trabalhadores europeus.

A esquerda tem a responsabilidade de rejeitar esta Europa e de construir um novo espaço democrático e solidário. E se queremos uma Europa reconstruida, e não apenas remendada, temos de o fazer unidos. É nesse esforço unitário que podemos denunciar as instituições europeias e construir uma alternativa.

Apesar de contestarmos os tratados e instituições europeias, e de sabermos que as recém criadas candidaturas à presidência da Comissão Europeia são uma farsa que apenas serve para fingir um avanço na democracia das instituições, a delegação portuguesa apoia a ideia de uma candidatura do PEE. Este será apenas mais um caminho para dar voz à alternativa da esquerda europeia, uma voz que denuncie a falência das políticas de austeridade e a falência democrática das instituições europeias, uma voz que nos une e seja ouvida.

Neste contexto a candidatura de Alexis Tsipras é a melhor opção, porque Tsipras é a face da alternativa de esquerda que pode em breve ser governo num país europeu. As eleições legislativas gregas de 2014 podem dar à esquerda europeia o governo de que precisa. Essa oportunidade tem de mobilizar a solidariedade de todo o Partido de Esquerda Europeia. Esta candidatura dará visibilidade ao apoio da esquerda europeia ao Syriza e à sua luta na Grécia.

E, tal como aconteceu em Portugal há quase 40 anos, a mudança na Grécia trará novas possibilidades de mudança por toda a Europa.
 
Por fim, na apresentação de algumas alterações aos estatutos Renato Soeiro fez uma análise da evolução do partido desde a sua fundação, relembrando que o PEE continua a ser um processo em desenvolvimento: não está acabado nem há nenhum modelo para o fazer. O caminho faz-se caminhando e o PEE constrói-se à medida que o fazemos em conjunto.

Nesse sentido, os estatutos vão evoluindo mas ainda há muitas questões que terão de ser aprofundadas. Nelas incluem-se o alargamento do PEE a mais partidos europeus, nomeadamente os que estão fora da União Europeia e a inclusão de membros individuais no partido. A primeira questão está a ser abordada nas presentes alterações dos estatutos, procurando-se que, cada vez mais, todos os partidos europeus que se revejam nos princípios do PEE, possam tornar-se membros. No que diz respeito à adesão individual, permanecem duvidas e limitações estatutárias sobre as quais não foi possível atingir um consenso, pelo que este problema, apesar de ser reconhecido, terá de ser resolvido num próximo congresso.

No segundo dia de congresso o Partido da esquerda europeia fez uma homenagem a Miguel Portas com a apresentação de um vídeo com imagens e discursos do dirigente do Bloco que passou os últimos anos da sua vida como deputado europeu e como um dos impulsionadores do PEE.

14/06/2013

Atenas resiste ao encerramento da televisão pública

Tirado do portal Esquerda.net (aqui).  "As emissoras públicas só saem do ar por duas razões: invasão por forças estrangeiras ou golpe de estado", afirmou Alexis Tsipras

Os transportes e serviços públicos gregos estão paralisados pela greve geral contra o fim da ERT. Apesar da chuva, mais de 100 mil pessoas manifestaram-se em frente à sede da estação. A decisão do primeiro-ministro só conta com o apoio do seu partido e dos neonazis da Aurora Dourada. Com uma crise política à vista, o Governo ameaça agora os operadores privados que retransmitem a programação que continua a ser assegurada pelos jornalistas e trabalhadores da estação.
Mais de cem mil pessoas concentraram-se em frente à sede da ERT em dia de greve geral contra o fim da emissora pública. Foto Alexsandros Vlachos/EPA
Com o fim do sinal de transmissão da ERT, os cidadãos gregos deixaram também de ter acesso aos restantes canais emitidos através da rede de serviço público, como o canal Parlamento, mas também aos canais de informação internacionais Deutsche Welle ou a TV5 francesa. Os trabalhadores e jornalistas continuam no edifício sede da televisão pública grega a assegurar a transmissão 24 horas por dia. E contam com a preciosa ajuda da União Europeia de Radiodifusão, que através dos seus satélites permite a retransmissão do sinal pelas outras televisões e rádios regionais em solidariedade com a ERT.
O presidente da UER, Jean-Paul Philippot, afirma que o encerramento do serviço público de tv de um dia para o outro pelo Governo de Antonis Samaras representa "o pior tipo de censura", depois do governo grego  "ter mandado a polícia cortar a emissora e impedir os jornalistas de fazerem o seu trabalho". 
E de facto, as últimas palavras do Governo não escondem essa censura, com o anúncio de que todas as estações de televisão e rádio que estão a retransmitir a emissão dos trabalhadores da ERT arriscam a perder as suas licenças. O sinal da televisão 902 TV, propriedade do Partido Comunista (KKE), já foi cortado pela empresa que controla a transmissão digital na Grécia e o ministro das Finanças, que assumiu a liderança da gestão da ERT, ameaçou a Rádio Kokkino, propriedade do Syriza, com intervenção da polícia se não silenciarem a retransmissão que é feita desde o corte do sinal da tv pública.
Crise política à vista
A revolta dos gregos com o encerramento súbito do serviço público de informação provocou a greve geral desta quinta-feira, convocada pelas principais centrais sindicais, com várias manifestações a convergirem para a sede da ERT, ameaçada com uma invasão policial. Os transportes estão parados, bem como a generalidade dos serviços públicos, enquanto os controladores aéreos anunciaram uma greve parcial durante a tarde.
Os 71 deputados do Syriza decidiram organizar-se em turnos de três horas para assegurarem dia e noite a proteção da sede da televisão pública do ataque policial. "As emissoras públicas só saem do ar por duas razões: invasão por forças estrangeiras ou golpe de estado", afirmou Alexis Tsipras dirigindo-se aos manifestantes à porta da ERT.
O principal partido da oposição marcou para a próxima segunda-feira um comício pela democracia. Segundo Yiannis Bournous, dirigente do Syriza, este comício intitulado "O regresso à Praça Syntagma" assinalará "o princípio do fim deste governo neofascista". 
Esta decisão do governo de Samaras sobre a ERT conta apenas com o apoio da Nova Democracia e dos neonazis da Aurora Dourada. Os parceiros de coligação de Samaras - o PASOK e a Esquerda Democrática - dizem-se contra o encerramento da ERT, mas não avançaram com nenhum cenário de rotura do atual governo da troika. Aos seus pedidos para uma reunião urgente com o primeiro-ministro, Samaras respondeu agendando o encontro para o início da próxima semana.
Com o despedimento de quase 2700 trabalhadores da emissora pública, o primeiro-ministro grego pretende cumprir, quase de uma penada, as metas assumidas pelo governo de coligação ND/PASOK/ED com a troika sobre despedimentos no setor público. A Comissão Europeia diz que não impôs esta medida ao governo de Atenas, mas também não condenou o corte da emissão da ERT.
Entretanto, sucedem-se algumas notícias e episódios sobre a forma como o governo tem lidado com a situação. Um dia depois de anunciado o nome da futura televisão grega (NERIT), alguém registou o domínio nerit.gr, que agora retransmite também a emissão da ERT. Agora ou o Governo muda o nome da estação ou terá de registá-lo noutro domínio, se não quiser pagar uma fortuna a quem o registou primeiro… 
O blogue Keep Talking Greece refere que volta a circular na imprensa grega a lista de assessores da ERT que o Governo contratou há poucos meses. Os contratos referem-se ao período após a mudança de tutela da empresa, com o novo ministro a permitir a contratação de dezenas de assessores. Os salários acordados foram sempre acima de dois mil euros, no caso das secretárias, e de quatro mil para outros assessores. Uma situação que não é estranha numa empresa que sempre foi colonizada com os boys da Nova Democracia e do Pasok.

06/06/2012

É possível a união com radicalismo, diz fundador do Syriza

Artigo tirado de Carta Maior (aquí).

Em menos de duas semanas, a população grega dará um importante sinal que certamente ecoará dentro e fora do país. Embora o resultado das próximas eleições legislativas na Grécia, marcadas para 17 de junho, permaneça ainda bastante incerto, as pesquisas mais recentes têm mostrado vantagem do emergente partido de esquerda radical Syriza, com algo em torno de 31% de preferência do eleitorado, seguido pela tradicional agremiação (de centro-direita) Nova Democracia, com cerca de 25%. Em baixa, os socialistas do Pasok – que, juntamente com a Nova Democracia, dá suporte ao programa de austeridade ditado pelos organismos financeiros internacionais e aplicado no país – não tem obtido um suporte maior que 14% nas últimas sondagens.

Alex Tsipras, líder do Syriza, tem enfatizado publicamente as bases do “plano de reconstrução nacional (contrário ao memorando de “resgate” repleto de cortes (em salários, pensões, investimentos público que restringem a produção e as políticas sociais etc.) formulado pela troika – Comissão Europeia (CE), Banco Central Europeu (BCE) e Fundo Monetário Internacional (FMI).

Para além do giro de Tsipras pela Alemanha e pela França, militantes do Syriza circulam por diversos países europeus às vésperas do decisivo pleito para apresentar e discutir questões relativas ao atual contexto político-econômico com representantes de organizações, militantes e interessados, em geral.

O ativista grego Yorgos Mitralias, um dos fundadores do Syriza (acrônimo formado com as iniciais de Coligação de Esquerda Radical), esteve em Portugal e participou de encontros abertos que contaram também com intervenções do economista português Vitor Lima. Carta Maior acompanhou o debate organizado pela Assembleia Popular de Coimbra, no último final de semana.

Jornalista aposentado e membro do Comitê Grego contra a Dívida, Mitralias fez comentários sobre a situação dramática pela qual passa o seu país e detalhou as características, propostas e dilemas do Syriza, com ênfase na dura batalha que a esquerda radical tem enfrentado nesta reta final de processo eleitoral. Tratou também da intensa polêmica em torno da saída ou não da Grécia da União Europeia (UE), bem como de temas correlatos como o corte dos gastos militares, a nacionalização do setor financeiro e, obviamente, os rumos da dívida.

Grécia
Na visão do militante político do Syriza, o país vive uma situação parecida com a que viveu a Alemanha na década de 1930, entre a I e a II Guerra Mundial. A classe média, muito importante para a Grécia, está, nas suas palavras, “sendo destruída”. Os índices de desemprego são altíssimos (por volta de 35%, em termos gerais) e superiores a 50% entre os jovens. “Daqueles que ainda têm trabalho, cerca de 500 mil simplesmente deixaram de receber salários”, acusa Mitralias. Segundo ele, o sistema sindical de convenções coletivas está em frangalhos e os acordos pessoais se multiplicam. Há sinais de desnutrição e a fome se alastra nos principais centros urbanos. “O país já está em ruínas”.

Diante desse cenário, os cidadãos buscam soluções radicais para seus problemas imediatos, ou seja, para sobreviver. Daí a tendência de investimento nos extremos do espectro político (tanto à esquerda como à direita), coloca o filiado ao Syriza. “Como os grandes partidos sociais democratas (seja mais de centro-direita, no caso da Nova Democracia, ou de centro-esquerda, como é o Pazok) não dão respostas, as pessoas estão procurando outros”, resume.

Além da ascensão do Syriza, o militante ressalta que o partido neonazista Aurora Dourada também vem experimentando um acréscimo de apoios. Bandos têm recentemente promovido violentos ataques contra imigrantes. “Tudo é possível. Para o bem ou para o mal”, adverte. A sensação, descreve, é a de que um vulcão político-ideológico está em plena erupção. “Há ‘paisagens’ que estão sumindo enquanto outras estão surgindo”.

Eleições
Desde a queda da ditadura militar, em 1974, a Grécia era tida como um dos países politicamente mais estáveis da Europa. Juntos, a Nova Democracia e o Pazok somavam tranqüila e repetidamente uma soma de 85% dos votos. Há apenas três anos, o Pasok chegou a obter a vitória histórica de 45% da preferência nas eleições parlamentares.

Ainda em 2009, o Syriza teve apenas 4,5%. Na última disputa, realizadas no início de maio, quadruplicou a proporção para 17% do eleitorado, garantindo 52 do 300 postos do Parlamento grego. “Nossa projeção é que possamos alcançar 35% em 17 de junho“, arrisca Mitralias. Dado o peso do resultado das urnas, ele frisa que as ameaças e chantagens que visam enfraquecer a esquerda radical têm se intensificado. “Dizem a todo o momento para que os gregos votem ‘corretamente’ [contra o Syriza]. Mas as pesquisas estão mostrando que a população está disposta a votar de forma ‘errada’”. ironiza.

“Não há certezas, mas é possível que nós da esquerda radical sejamos vencedores”, projeta. As sondagens revelam uma forte adesão dos adultos (na faixa dos 25 anos a 45 anos) nas dez maiores cidades da Grécia. “Creio que conseguimos captar os anseios e dar voz à população”, diz o militante, fazendo referência à perspectiva concreta e de curto prazo para lidar com os problemas. “Mas trata-se de uma guerra. Todos os meios estão sendo utilizados [contra nós e o nosso programa]. Não podemos ser inocentes”.

O Syriza, na descrição de Mitralias, é um caso particular de “casamento” entre partidos políticos distintos e entidades da sociedade civil. Fundado há nove anos, o partido reúne ao todo 12 organizações, desde uma ala reformista de esquerda e segmentos trostkistas até grupos autônomos e de defesa de direitos como o das mulheres. Nas raízes do partido, estão inclusive articulações em torno do processo do Fórum Social Mundial. “A primeira lição é a de que é possível a união com radicalismo. Esta formação não foi sempre harmoniosa. Houve crises e muitas outras ainda virão. Há, por exemplo, algumas questões transversais que atravessam horizontalmente toda a organização, que é uma grande mescla”.

União Europeia
Para Mitralias, o dilema não é necessariamente “permanecer ou não na União Europeia (UE)”, como o mercado financeiro e outras forças políticas têm colocado, mas enfrentar o cenário de crise “com ou sem austeridade”. O grande terror alardeado por porta-vozes do poder é a de que a Grécia seja “expulsa” da UE em caso de vitória do Syriza. “Se isso vier a acontecer, haverá uma ampla reação em toda a Europa”, assinala o ativista.

A ação arbitrária de exclusão, que não está prevista nas normas do bloco, facilitaria a constituição do que ele considera ser o principal meio para enfrentar definitivamente o receituário da austeridade: um movimento de massa transfronteiriço de aliança entre organizações de base europeias com bases locais e de longo prazo. Tal proposta se combinaria com a convocação, nos próximos anos, de uma nova Assembleia Constitutiva da UE. “Alguém pode achar que eu estou falando está mais para ficção científica. Mas o que era improvável se tornou mais do que possível. Devemos estar preparados e temos de procurar dar respostas à altura [dos desafios impostos pela crise]”.

“Sair do euro seria voltar para o Estado-nação”, adiciona o militante do Syriza, que se opõe ao isolamento que enquadra a questão como “problema interno”, afastando a possibilidade de saídas conjuntas em nível continental. “Seria abandonar os companheiros dos outros países do bloco e dizer não ao movimento solidário europeu”.

Na perspectiva dele, “não é o euro que é necessariamente ruim, mas justamente a total ausência de solidariedade [por parte de quem está à frente da iniciativa transnacional]”. Mitralias realça, por exemplo, que nove estados dos EUA têm uma situação fiscal pior que a da Grécia, mas o Banco Central norte-americano atua como as estruturas financeiras europeias deveriam fazer, assegurando condições para que os mesmos sigam seus caminhos.

A “ausência de solidariedade”, complementa o ativista, ainda vem combinada com a manutenção de parte do orçamento público que favorece a indústria bélica de países como a Alemanha, a França e os EUA. “Como é sabido, a Grécia é um dos melhores clientes mundiais em termos de gastos militares. Denúncias recentes vêm mostrando indícios de corrupções milionárias envolvendo o setor. Pretendemos cortar isso drasticamente”.

O próprio Mitralias admite, porém, que o partido ainda não fechou posição definitiva acerca de algumas questões relevantes. A nacionalização dos bancos, por exemplo, com o intuito de fazer o dinheiro chegar até as pessoas para que a economia passe a funcionar, ainda permanece em aberto. A própria questão da dívida não está completamente decidida: sinalizações de possíveis renegociações sob determinadas condições se misturam com posturas que defendem a suspensão, o repúdio e a auditoria. “É impossível pagar. Para isso, teremos de optar por uma recessão monstruosa, durante anos e anos”, sustenta o militante, que critica os “moderados” instalados dentro do Syriza que preferem acordos com a banca. Os desígnios das urnas podem fazer com que essa e outras batalhas “internas” ganhem ampla repercussão não só para a Grécia como para o conjunto da União Europeia (UE).

04/06/2012

Reino de España: a situación é desesperada, mais non é seria

Antoni Domènech e G. BusterArtigo tirado de SinPermiso (aquí) e traducido por Revolta IrmandiñaAntoni Domènech é o editor de SinPermiso. Gustavo Búster é membro do Comité de Redación de SinPermiso.



"No medio do pulso a tres bandas que ten lugar en Europa esta primavera-verán, en especial se se acaba formándose en Grecia un gabinete de esquerda, as urxencias do goberno Rajoy -provocadas en boa medida polos efectos negativos acumulados dunhas contrarreformas estruturais fundadas, como as de Zapatero, nun mal diagnóstico dos males españois e europeos- desconcertan e irritan aos seus reticentes salvadores comunitarios. Pois Rajoy pretende, por unha banda, anticipar pola vía dos feitos consumados unha negociación que a Troika ten destinada a Tsipras, en caso de vitoria electoral da esquerda grega; pretende, do outro, adiantar en solitario un programa que a Comisión vai negociando paso a paso con Merkel, baixo presión de Hollande; e pretende facer todo iso, encima, alegando "solvencia" para manter un goberno deteriorado na opinión pública (e publicada) española e do que non se fían xa nin os "mercados" nin as institucións europeas."

De príncipe que en el suelo / va por tan justo nivel / ¿qué se puede esperar dél / que no sean obras del cielo?.— Cervantes

O goberno que ía fundamentar a súa xestión en "dar confianza aos mercados" entra no seu sexto mes desbrozado, nun asombroso estado de descrédito xeneralizado. As súas "reformas", como a do mercado laboral -que xerou 400.000 parados máis., ou as dúas do sector financeiro -que provocaron o esborralle de Bankia e un buraco de provisións para esta soa entidade de 23.000 millóns de euros (o 2% do PIB)-, lonxe de dar resultados, levaron ao Ibex 35 ao seu punto histórico máis baixo -perdeu o 60% do seu valor desde 2007-. O diferencial de risco non baixa desde o 14 de maio dos 500 puntos -alcanzando o máximo histórico de 545 a pasada semana-. A taxa de xuro dos bonos de débeda pública a dez anos toca o 6,7%. E os mercados de seguros de falta de pagamentos crediticia (CDS) cobren eses bonos a un alarmante prezo, que pasou folgadamente os 600 puntos (600 mil euros por cada 10 millóns de investimento).

A situación é, pois, desesperada. Porén non é seria.

Nunha semana, a contabilidade de Bankia pasou de rexistrar uns beneficios de 310 millóns a admitir unhas perdas de máis de 3.100 millóns en 2011.

Os portavoces do goberno filtran o seu plano de salvamento de Bankia, asegurando, sen consulta previa, que o BCE aceptará bonos de débeda soberana española como colateral da recapitalización pública por 23.000 millóns de euros do banco.

O novo presidente de Bankia afirma que a el non lle toca devolver a achega pública, senón "valorizarla" para permitir a privatización posterior da entidade.

O presidente do Banco de España -entidade que ten blindada a súa independencia por lei- dimite para forzar a súa comparecencia no Congreso, e a continuación, declara no Senado que non dá a súa opinión sobre o sistema financeiro que debe regular, porque así llo pide o goberno, un goberno que o desautorizou previamente como regulador veraz do sistema financeiro.

Acurralado polos deputados de Esquerda Plural, o ministro de Guindos di que con Bankia e outras entidades financeiras menores o que se vai a crear, "de momento", é unha enorme banca pública que representará preto dunha cuarta parte do sector financeiro español, aínda que admite, como "paradoxal", que iso o teña que facer un liberal" como el.

O ministro de asuntos exteriores viaxa a Londres para tratar da recente crise de Xibraltar, provocada polo desmantelamento do foro tripartito, e declara á súa volta que deben negociar pescadores e autoridades do Peñón.

O presidente do tribunal supremo cre normais as súas viaxes cada dous meses a Porto Banús en fin de semana a cargo do orzamento.

Unha deputada do PP, Carolina España, tan serieciña e en sede parlamentaria, acusa vehementemente á oposición de "querer politizar o Parlamento".

A ministra Ana Mato "explica" de maneira inenarrábel os recortes desmanteladores da sanidade pública con despropósitos que alimentaron durante semanas a broma nacional. Por exemplo -mero exemplo-: "Ahí estarían pues las prestaciones farmacéuticas, las terope.. tripe… teroperapéuticas, ehh… me he equivocado en la en el nombre y poner en valor lo que tiene mucho en valor, porque no hay cosa que tenga más valor que una medicina que cura enfermedades." [Para escoitar o audio enteiro (e partirse da risa):http://www.cadenaser.com/espana/audios/explicaciones-ana-matogueira/csrcsrpor/20120418csrcsrnac_11/Aes/.]

Non é de estrañar que neste contexto Gila resucitase e pretenda "que se poñan ao teléfono os mercados".

Aquí quen goberna?

Menos mal que Rajoy sabía o que tiña que facer para saír da crise. En cinco meses, o seu goberno aprobou 20 decretos-lei (8 Aznar, 5 Zapatero) e só 3 proxectos de lei no Congreso. O rodete da maioría absoluta, pretendido garante da estabilidade política durante catro anos, só conseguiu acordos con CiU na reforma laboral (e críticas de Durán i Lleida). Bloqueou o funcionamento das comisións parlamentarias e vetou a constitución dunha comisión de investigación sobre Bankia.

Porén non hai estabilidade política sen certo grao de hexemonía social, e as respostas neoliberais á crise están erosionando visibelmente os apoios electorais dos partidos que apoian o Pacto Fiscal do chamado "Consenso de Bruxelas". Segundo Metroscopia, o 68% está en contra do saneamento público da banca privada e un 53% defende a creación dunha banca pública. O 96% pensa que a situación económica é mala ou moi mala. O 62% cre inevitábel un rescate europeo. Na desesperación total, o 89% clama por acordos dos grandes partidos para afrontar a crise.

Nada diso parece conmover ao goberno, renuente a explicar o que fai. Nunhas declaracións (á emisora Onda Cero) que resultarían escandalosa, se o do pan o noso de cada día non fose xa a sucesión de escándalos, Rajoy deixou sentado que da necesidade non fai sequera virtude, senón antidemocrático capricho discrecional:

"...farei calquera cousa que sexa necesaria, aínda que non goste dela e aínda que dixese que non o ía facer".

Pero cando condescende a explicar que é o que considera "necesario" nun momento dado, as dúbidas multiplícanse. Así na rolda de prensa do pasado luns 28, na que Rajoy conseguiu convencer... da súa incoherencia, afundindo o Ibex 35 e disparando a prima de risco.

Semellantes mostras de errática incompetencia nun Reino inveteradamente feito á chapuza conseguiu xa sacar das súas casas a quen na dereita cren ter as solucións, pero non o aparello de poder para polas por obra. Iniciou a campaña o coñecido analista de dereitas José Antonio Zarzalejos desde o diario conservador barcelonés La Vanguardia, e estes días secúndano, coa debida pompa proporcionada polo diario social-liberal madrileño El País, tres superferolíticos e "ortodoxos" catedráticos de economía que exercen no estranxeiro: "un novo goberno técnico, co apoio de todos os partidos maioritarios e dos nosos expresidentes, composto por políticos competentes e técnicos intachábeis con amplos coñecementos da súa carteira". [El País, 31 maio 2012]

Rescate económico = amortización política

A recua de contrarreformas estruturais de cada consello de ministros -os sinais de fume enviadas ao "mercado" as "sextas-feiras de dor"- non puido ter efectos máis contraindicados. Ao final, segundo declararon ao alimón Rajoy e o ministro de economía De Guindos, "España fixo xa todo o que podía facer, e agora tócalle a Europa".

E aí acábase o horizonte do goberno Rajoy: en pedir que o BCE volva comprar débeda soberana española nos mercados secundarios, que se cre un mecanismo de garantía de depósitos europeo, e que se volva a inxectar liquidez sen limites á banca española. Esta foi o seu consigna monolemática no Cimeira da OTAN de Chicago e no Consello Europeo extraordinario de 23 de maio.

A inicial calada por resposta con que se atopou trocou en manifesta irritación pública. Os cachetes  víñaos levando a "marca España"; agora é directamente o goberno do Reino o amoestado polo presidente do BCE, Mario Draghi, e o comisario de economía Ollin Rhen: non poden crer que Rajoy e o seu goberno interfiran como elefante en cacharrería no duplo pulso que eles están agora mesmo mantendo, contra o intelixente desafío lanzado por esquerda grega -de face ás eleccións do 17 de xuño-, e contra a Alemaña de Merkel e Schäuble -para o redeseño das institucións comunitarias-.

Porén un Rajoy convencido -vaia vostede a saber porqué, vistos os resultados- de que as súas reformas lle dan "solvencia", quere "liquidez" custe o que custe para chegar a ver os seus supostos efectos. Un analista dos que nunca faltan, o francés Alain Minc, di que Rajoy "peca de orgullo", porque non esta disposto a pedir o rescate europeo do sistema financeiro español, como lle suxeriu benintencionadamente Hollande.

O certo é que, como demostraron as reformas financeiras improvisadas ao chou polo goberno, a cousa é un pouco máis complicada. Tecnicamente, porque até xullo non entra en funcionamento o Mecanismo Europeo de Estabilidade. Politicamente, porque o rescate trae consigo a amortización do goberno.

É posíbel un "goberno técnico?

No medio do pulso a tres bandas que ten lugar en Europa esta primavera-verán, en especial se se acaba formando en Grecia un gabinete de esquerda, as urxencias do goberno Rajoy -provocadas en boa medida polos efectos negativos acumulados dunhas contrarreformas estruturais fundadas, como as de Zapatero, nun mal diagnóstico dos males españois e europeos- desconcertan e irritan aos seus reticentes salvadores comunitarios. Pois Rajoy pretende, por unha banda, anticipar pola vía dos feitos consumados unha negociación que a Troika ten destinada a Tsipras, en caso de vitoria electoral da esquerda grega; pretende, do outro, adiantar en solitario un programa que a Comisión vai negociando paso a paso con Merkel, baixo presión de Hollande; e pretende facer todo iso, encima, alegando "solvencia" para manter un goberno deteriorado na opinión pública (e publicada) española e do que non se fían xa nin os "mercados" nin as institucións europeas.

A división da dereita española é bo reflexo do desconcerto. O tres catedráticos antes mencionados sospeitan un xesuítico plano para volver á peseta e á España de hai 50 anos. Outros, unha recentralización antiautonómica -con apoio de nacionalistas cataláns e vascos-, que non só acabe co modelo constitucional do "café para todos", senón que de paso reforce á monarquía cunha substitución de titular para evitar novas "crises do elefante" como a de hai mes e medio, pendente aínda o "caso Urdangarín". Uns e outros, folga dicilo, piden "unidade" bipartidista, grave seriedade ante a seria gravidade da situación.

Non hai dato empírico, nin teoría económica cientificamente decente, nin economista que se autorrespete, nin sequera (xa) columnista económico que queira conservar a reputación profesional, que avale a demasía, segundo a cal é cousa medianamente boa unha política procíclica de austeridade en plena recesión. Non hai dato, nin teoría económica cientificamente decente, nin economista que se autorrespete, nin sequera (xa) columnista económico que queira conservar a reputación profesional que avale a demasía, segundo a cal ten saída non catastrófica a crise dunha zona monetaria única sen dar pasos rápidos cara a unha autoridade fiscal única, a mutualización da débeda pública e unha política fiscal globalmente expansiva. Até Martin Wolf preguntábase esta semana pasada (no Financial Times!), se Merkel e os seus conselleiros sabían discernir ben os "intereses nacionais de Alemaña", concluíndo que da incerta resposta a esa peliaguda cuestión "depende o destino de Europa". Porén a dereita e o centro tecnocráticos españois, coma se nada; tan empeñados no cabildeo "unitario" bipartidista.

Os feitos din: que o xiro político-económico de Zapatero en maio de 2010 foi unha catástrofe, segundo prognosticamos en SinPermiso no seu día (véxase AQUÍ e AQUI); que as políticas de Rajoy son a súa continuación e profundización (e dos seus efectos catastróficos, segundo prognosticamos tamén en SinPermiso no seu día: véxase AQUÍ). E o sentido político común máis elemental -e as enquisas de opinión- din: que o PSOE carece de todo crédito moral para criticar as políticas actuais mentres non se avilante a presentalas (auto)críticamente como continuadoras do malhadado "experimento" antidemocrático que arrincou en maio de 2010..

O mesmo venres que se coñecía a solicitude do novo presidente de Bankia -un alto burócrata da banca privada (xubilación de ouro, incluída)- de 23.000 millóns do erario público, reuníanse Rajoy e Rubalcaba e declaraban, por separado, "estar de acordo no substancial".

En que consista "o substancial", non consta en parte algunha. Porén se saltan á vista as razóns de Rajoy para fecharse en banda ante posíbeis "gobernos técnicos" que o amortizarían politicamente -a súa prepotente práctica parlamentar revélao-, as de Rubalcaba baséanse na miope xestionciña oportunista das contradicións e os escollos cotiáns que presenta a situación. E que consiste, "no substancial", en ofrecer o pacto coas súas condicións, e ao mesmo tempo, tentar rendibilizar as crecentes mobilizacións sociais contra unhas políticas de axuste das que Zapatero e el mesmo foron indiscutíbeis precursores ("salvando a España da intervención"-como aseguran os portavoces e os tartufos mediáticos do PSOE).

Sexa iso como for: un "goberno técnico" -xa integrándoo, xa sosténdoo parlamentariamente, como en Grecia e Italia- trae inexorabelmente consigo unha serie de condicións do rescate que profundarían o axuste neoliberal e erosionarían máis rapidamente a base social dunha reconstruída alternativa de goberno do PSOE: o ben merecido destino do PASOK estaría ao virar a esquina.

Rato e o exemplo de Bankia

Achegámonos perigosamente a unha situación na que as clases reitoras non poden seguir gobernando cómoda e acomodaticiamente como facían até agora, no medio de tensións europeas crecentes que decidirán nos próximos meses ou semanas o futuro do euro e da UE.

O máis revelador respecto diso foi talvez a intervención de Rodrigo Rato ante o consello de administración de Caixa Madrid, que aínda preside tras abandonar Bankia. Nun discurso de 15 minutos, observou puntillosamente que a diferenza entre 300 millóns de beneficio e 3.000 de perdidas en 2011 é culpa exclusiva da reforma do sistema financeiro aprobada polo goberno o 11 de maio. Que as provisións de créditos fiscais (3.000 millóns) non teñen urxencia algunha, porque o prazo legal de compensación é de 18 anos. Que a provisión de carteira participada (4.000 millóns) adianta a contabilización de futuras perdas a valor do mercado actual, a pesar de non estar á venda. E que a provisión de carteiras crediticias e inmobiliarias (15.000 millóns de euros) vén esixida polas provisións adicionais da nova reforma (7.000) e para preveer agora posibles perdidas futuras de falta de pagamentos de morosos e de desvalorización de activos inmobiliarios cando se vendan (8.000). Conclusión do propio Rato: "un magnifico plano de capitalización para Bankia e o seu novo equipo xestor", con vistas á súa futura reprivatización e "un grave prexuízo aos actuais accionistas da entidade".

A "solvencia" da reforma financeira do goberno Rajoy en Europa depende do exemplo de Bankia, que en menos dun ano obtivo créditos a 1% do BCE por un monto de 40.000 millóns de euros. O que basta para explicar porqué sobran comisións de investigación parlamentares, a inacción do fiscal do estado ou o silencio imposto ao "independente" presidente do Banco de España, tras a pública demolición con escarnio da credibilidade da institución reguladora. O que é un segredo a voces -o armazón corrupto do modelo especulativo de ladrillo, tuneladoras, Teatro Real en Madrid, Cidade das Artes e as Ciencias en Valencia e débeda pública e privada- non pode, non debe, ser escoitado en Berlín, Fracfort ou Bruxelas.

A imposición da "solvencia" ao conxunto do sistema financeiro -cuxo obxectivo é unha concentración de capital sen precedentes coa privatización das Caixas de Aforros polos grandes bancos privados- esta provocando unha enorme crise de liquidez. Os supostos futuros beneficiarios poden acabar sendo victimas do propio afán gobernamental. Mentres tanto, a falta de liquidez esténdese a toda a economía e explica en boa parte a repatriación de beneficios masiva das multinacionais españolas en América Latina para paliar a depreciación da súa cotización en bolsa.

O futuro xógase a curto

Chegados a este punto só queda constatar o que é evidente: a ineficacia prexudicial das políticas de axuste fiscal; a incompetencia clamorosa do goberno Rajoy que as aplica, o pasmo institucional ante as súas propias contradicións da UE e da Troika.

De Guindos, nunha positiva novo "sinal aos mercados", anuncia que o futuro do euro se xoga nas próximas dúas ou tres semanas, en España e en Italia. Sen dúbida estas declaracións contribuirán o seu a acelerar o fluxo de capitais que, segundo o Financial Times, nunha cantidade de 100.000 millóns de euros abandonaron o Reino de España no primeiro trimestre do ano. Porén non lle falta razón. O noso futuro xógase no pulso político que terá lugar se un goberno de esquerda en Grecia planta cara ás políticas de axuste do Pacto Fiscal, fórmanse as alianzas sociais e institucionais necesarias en Europa e corríxese progresivamente o rumbo deste dislate de estratexia económica que pasa por "ortodoxa" a forza de incoherente e ignorante.

Prepararse para influír nesa situación, en caso de producirse, esixe unha estratexia da esquerda, tanto a nivel europeo como de cada estado-membro, capaz de construír unha alternativa real, apoiándose na mobilización social e na presenza nas institucións democráticas á altura do reto histórico aberto pola crise. Unha estratexia seria, que permita superar esta situación desesperada, pero non seria.

31/05/2012

O ideario ultraliberal na era da supercharía

Alejandro Nadal. Artigo tirado de SinPermiso (aquí).



A crise en Europa atravesou varias etapas e agora chegou a fase da discusión política. É a fase que máis temen o establishment, o sistema bancario e as grandes corporacións e centros de poder. Nótase na imprensa internacional de negocios. Esta é a etapa máis importante porque nela ábrese a controversia política e os pobos comezan a deliberar sobre o seu futuro. Recuperan a palabra, a conciencia histórica e pensan o seu destino. Ao poder estabelecido repúgnalle este momento democrático e buscará distorsionarlo e corrompelo de mil maneiras.

Cando a crise comezou co colapso inmobiliario en Estados Unidos, a economía europea foi a primeira en sufrir a aguillada. A bursatilización de activos tóxicos estadounidenses fora o medio de contaxio no sistema bancario e financeiro europeo. O primeiro síntoma foi o colapso dos bancos BNP Paribas (setembro 2007) e Northern Rock (nacionalizado en febreiro 2008). O conxelamento no mercado de diñeiro interbancario fixo o demais: a correa de transmisión conduciu a unha caída no investimento e a demanda final. A corrosión no sector financeiro foi seguida dun freo na actividade da economía real (non financeira).

A segunda fase da crise arrinca coa caída no nivel de actividade e a redución nos ingresos tributarios. Ao mesmo tempo, a coordinación no seo do G-20 levou a un aumento no gasto público para estimular a economía e mitigar o efecto da caída na demanda agregada. A contracción nos ingresos tributarios e a expansión no gasto público combináronse para incrementar fortemente o déficit fiscal. E como a arquitectura da unión monetaria impide ao Banco central europeo (BCE) financiar aos gobernos da zona euro, non quedou máis remedio que acudir aos mercados financeiros, en cuxas augas as quenllas están cebadas. Por iso esta segunda etapa da crise preséntase para moitos como unha crise de endebedamento dos gobernos. Pero esa non é a súa verdadeira natureza.

A evolución da crise non é lineal. As diversas caras da crise coexisten: a nacionalización de Bankia no Estado español confirma que o sistema bancario en Europa está danado e terá que seguir en coidados intensivos. A primeira fase da crise non pasou en balde, e a austeridade non só non arranxa nada senón que agrava as cousas. A restrición fiscal xa conduciu á recesión e agora vén a mobilización política para evitar que os danos magoen á poboación europea.

Moito se escribiu sobre o triste estado da teoría económica convencional. Non puido prever a crise porque é esencialmente un discurso ideolóxico e para facer a apología do réxime ultraliberal o que menos se quería era falar da inestabilidade intrínseca do capitalismo. Confrontada co fenómeno do desemprego esa mesma teoría estándar sempre insistiu en que a culpa a tiñan os sindicatos e calquera forma de protección laboral. É o mito da rixidez de prezos que segue sendo a arma predilecta de propaganda política ultraliberal. Por iso, pasada a primeira sorpresa os portavoces do poder ultraliberal recuperaron a iniciativa e relanzaron o seu discurso en contra do gasto público e a favor das reformas estruturais. O ultraliberalismo recoñeceu rápido a oportunidade para unha nova guerra contra o estado de benestar. O contrasinal nesta nova ofensiva é a palabra austeridade.

Os economistas saben desde hai moito tempo que aplicar un réxime de austeridade nunha contracción económica é a mellor receita para afundir unha economía nunha depresión. Porén aquí non importa que o diagnóstico sexa equivocado e que a menciña da austeridade estexa contraindicado. Os poderes na Unión Europea, no BCE e no Fondo monetario internacional (FMI) só pensan en rescatar o programa ultraliberal. O castigo contra os pobos dos estados grego, español, portugués e italiano mostra claramente a natureza podrecida do seu proxecto. Aos poderes estabelecidos non lles interesa a democracia, nin os cidadáns da Unión Europea. O pobo é material gastábeñ porque o único que conta neste momento é salvar o proxecto ultraliberal.

De face ás eleccións do 17 de xuño, Alexis Tsipras, dirixente da formación de esquerda radical Syriza, ten razón ao sinalar que o fundamento de Europa é a democracia e a solidariedade, non un pacto organizado ao redor das dogmas da austeridade fiscal e a estabilidade de prezos. Non hai que equivocarse, esta é a crise dun modelo económico baseado na especulación e a explotación, non a crise do estado de benestar. A lucidez dos pobos acabará coa andrómena ultraliberal. A moeda única debe ter outro fundamento e, en todo caso, non se vai a salvar coa dogma da austeridade ultraliberal e a destrución do estado de benestar en Europa. En América e en Europa, unha nova economía debe construírse sobre as ruínas do proxecto ultraliberal.


Tsipras em Berlim

Ángel Ferrero. Artigo tirado de SinPermiso (aquí) e traducido por Revolta IrmandinhaÀngel Ferrero é membro do Comité de Redação de SinPermiso.



Alexis Tsipras, o presidente de SYRIZA, deu a sua conferência de imprensa a escassos metros do epicentro de poder na Alemanha -o Reichstag e a Chancelaria-, na Haus der Bundespressekonferenz (BPK), um desses locais em que os jornalistas se cozem no seu o seu próprio suco e que conta com uma espaciosa e moderna sala de conferências, amplos gavinetes e até um abrevadeiro próprio onde os sócios podem se sentar a beber álcool e fazer como que são jornalistas (isso é o que nos ensinam os filmes, não?). Um colega comenta-me que a proximidade com respeito ao Reichstag e a Chancelaria obedece a uma razão muito precisa: os lambe-cus têm que estar cerca do cu. Pense-se o que se queira da linguagem, mas razão não lhe falta: a Tsipras perguntaram-lhe não uma nem duas, senão até três vezes que pensava fazer quando ganhasse as próximas eleições do 17 de junho -os inquéritos seguem dando a SYRIZA como ganhadora, com percentagens de até 30 pontos-[1] e Grécia saísse do euro como reza a propaganda oficial, apesar de que uma das primeiras coisas que disse foi que nada estava mais longe da intenção da coalizão que lidera, e exatamente o mesmo declarou no dia anterior em Paris. A verdade é que dava igual, porque a notícia estava redigida antes inclusive de que baixasse do avião. De facto, a repercussão da viagem de Tsipras a Paris e Berlim nos médios alemães foi mais bem escassa. O Bild, o rotativo sensacionalista mais lido da República Federal Alemã, respondeu à sua maneira e publicou um breve sobre Vicky Voulvoukeli, um desconhecida político de "Gregos independentes". [2] Mas esperem a que ganhe e então verão. O mais bonito que dizer-se-á de Tsipras será algo bem como "o Hugo Chávez do Mar Jónico". Segundo o diário Bild, Alexis Tsipras «simpatiza publicamente com os anarquistas violentos. Acusa-se-lhe de ser membro [de um destes grupos] e dos financiar.» [3]

A diferença de Paris, onde contou com um numeroso público na Assembleia Nacional,[4] a sala de imprensa do BPK não se encheu. O clima reinante foi tipicamente alemão, que é tanto como dizer hostil, mas reservado. Tsipras era convidado pela Esquerda a expor o seu programa em Berlim, como no dia anterior o tinha sido pelo Front de Gauche em Paris, onde, dito seja de passagem, não foi recebido por François Hollande, um eco a negativa que recebeu o próprio Hollande por parte de Merkel quando foi candidato à presidência francesa. O candidato de SYRIZA esteve em todo momento flanqueado por Klaus Ernst e Gregor Gysi, que aproveitou a ocasião para reclamar ao Partido Social-democrata Alemão (SPD) que recuse de maneira clara o pacto fiscal e aceite os eurobonos, ao que o SPD fez, apelando como sempre à "responsabilidade de estado" -essa instância superior equivalente a Deus na Alemanha-, ouvidos surdos.[5] Tsipras tomou a palavra e agradeceu à Esquerda a sua solidariedade (solidariedade que, dito seja de passagem, deve de lhe ter custado algum que outro ponto percentual nos inquéritos de intenção de voto). Que amarga deceção deveu supor para os jornalistas alemães, ávidos de carnaza, quando Tsipras declarou não se sentir protagonista de nada. «O povo grego é o protagonista», disse, e recalcó, como o fez em Paris, que não vinha a pressionar a ninguém.

A casa comum europeia

O problema da Grécia, disse Tsipras, é o problema da Europa. Que é tanto como dizer: o problema do projeto de unidade europeia, caracterizado pelos seus desequilíbrios internos e a ausência de uma política fiscal comum. Não se pode resolver, portanto, o problema da Europa sem resolver o problema da Grécia. Tsipras reclamou solidariedade aos povos da Europa e recordou, se é que fazia alguma falta, que o programa de austeridade fracassou: Grécia entra no seu quinto ano de recessão, algo que não tem precedentes na Europa em tempos de paz, só, como bem recordou o presidente de SYRIZA, na Europa oriental, laboratório da terapia de choque ultraliberal nos noventa depois da desintegração do bloco oriental. O consenso entre académicos e economistas de que estas medidas conduzem a uma situação desastrosa de pobreza e desemprego -que Tsipras não duvidou em qualificar de «catástrofe humanitária»- é amplo. As ajudas em nada contribuem a melhorar o bem-estar dos gregos, só servem para resgatar aos bancos. Há que propor, acrescentou, um programa de recuperação económica para a Grécia, frear o brain draining e evitar que o país se converta, como sonham os liberais alemães do FDP, em um protetorado alemão dedicado ao turismo, a produção de energia solar -canalizada a Alemanha, sobreintende-se (sobretudo após o apagão nuclear que se viu obrigado a tomar o governo de Merkel por pressão popular)- e uma agricultura pouco competitiva.

Tsipras não renunciou em nenhum momento ao seu programa íntegro e passou rapidamente ao contraataque: são os outros quem abandonaram os seus programas, que fizeram, senão, o PASOK e Nova Democracia? Quando um jornalista alemão sacou a relucir os problemas do estado grego, Tsipras respondeu que Grécia tem, efetivamente, problemas, e que as reformas são necessárias, mas que baixo nenhum conceito podem vincular à propaganda que assegura que se trata de um rasgo cultural. O problema não é o setor público, disse, este no máximo pode reestruturar-se para o seu melhor funcionamento, mas em nenhum caso recortar-se. SYRIZA quer contribuir à estabilidade da Europa e em nenhum caso quer a sua destruição, senão a sua regeneração democrática. Quem parece empecinada em terminar com a ideia da Europa é Angela Merkel. Já o disse faz meses Oskar Lafontaine (que nesse mesmo dia anunciou, por verdadeiro, que retirava a sua candidatura à presidência da Esquerda para deixar passo às novas gerações): «Merkel está aí para destruir a Europa.» [6]

Alexis Tsipras demonstrou também uma pouco conhecida habilidade retórica, sem estridencias, para reutilizar as metáforas das elites políticas europeias: assim, não é possível aumentar as doses do medicamento de austeridade, pois não só matará ao paciente grego, senão que contagiará ao resto da Europa. Quando a medicina falha, continuou Tsipras, a culpa não é do doente, senão da receita. E a receita fizeram-na os doutores de Berlim e Bruxelas. Grécia, seguiu, é parte de uma grande família europeia. Perguntado se a sua formação conduziria desde o governo ao abandono da Grécia da eurozona -ou pior ainda: a sua expulsión, uma ameaça presente, mas que não se menciona- recordou que a eurozona não é nenhuma casa que tenha um proprietário e em que o resto sejam meros inquilinos, senão que todos são inquilinos na casa comum europeia.

Terminou Tsipras a roda de imprensa com uma séria advertência: estamos em uma situação comparável em certas feições à década dos trinta. Devemos encontrar uma solução comum antes de que seja demasiado tarde. A guerra, assinalou Tsipras, não tem local entre nações, senão entre o povo e os trabalhadores, por um lado, e os capitalistas pelo outro. Já vai sendo hora de que no Reino de Espanha os súbditos comecem a ser cidadãos e comecem a falar "grego". Podem começar por aqui: "não" diz-se "όχι".


NOTAS:
[1] "Umfrage sieht Syriza-Partei in Griechenland vorne", Spiegel, 24 de maio de 2012.
[2] "Diese schöne Griechin will 70 Mrd. Euro "Kriegschulden" von Deutschland", Bild, 23 de maio de 2012.
[3] "Griechenland: Kommunisten, Judenhasser, Halb-Kriminelle: Regieren desse Radikalen bald Griechenland?", Bild, 12 de fevereiro de 2012.
[4] "Tsipras: 'Debemos refundar Europa y derrota al poder financiero'", El País, 21 de maio de 2012. 
[5] "El SPD alemán y Los Verdes se suman a Merkel en el rechazo a los eurobonos", El País, 24 de maio de 2012. 
[6] "Oskar Lafontaine: 'Merkel ist dabei, Europa zu zerstören'", Spiegel, 16 de fevereiro de 2012.