A Galiza anda estes dias mergulhada na agenda catódica de Wikileaks e dos controladores. Com a detençom sem fiança de Julian Assange às democracias representativas ultraliberais cai-lhe o cuspe que botárom contra Chávez na cara. Com a militarizaçom dum conflito laboral e a declaraçom do Estado de Alarma ao PSOE caiu-lhe definitivamente à carauta e a mensagem ao conjunto dos trabalhadores é clara: se se revoltam... Alguns já diziamos há bem tempo que viviamos num permanente 23-F, bem notável em lugares coma Euskal Herria e nom menos certo na Galiza onde a Al-Qaeda local (a imaginária Resistência Galega) se ilegaliza para que "todo el peso de la ley" caia sobre a esquerda soberanista deste país. A única esquerda com um projecto abertamente anticapitalista e afastado das receitas social-liberais e ultraliberais do PPSO€.
Também é de deostar a escassa consciência e classe que vem demonstrando a classe trabalhadora galega e a do Reino de Espanha em geral, porque nom o esqueçamos, ainda sendo independentistas o marco jurídico e a superestrutura político-jurídica que nos oprime é a do Reino de Espanha e nesse espaço também temos e devemos fazer política. Agora que os vozeiros da direita fascistoide como Blanco Valdés clamam por um governo de "unidad nacional" ao estilo dos de Maura na I Restauraçom bourbónica o soberanismo das naçons sem estado e até o republicanismo espanhol devem tender ponte para umha nova frente republicana que, isso sim, reconheça abertamente o direito à autodeterminaçom da Galiza, Euskal Herria e os Països Catalans. Mas falava-vos da classe trabalhadora, desunida, dividida... com uns sindicatos moribundos na sua maior parte e com a hegemonia social para a direita e para a mídia mais recalcitrante do corte de Intereconomía. A greve dos funcionários tivo como resposta "nom sei de quê se queixam tenhem trabalho", "que se fodam nom fam nada"... as pessoas do comum viam à imagem do funcionário que dá a mídia: tomando um café e de parola detrás dum mostrador. Nom viam o médico que cura as suas doenças ou os mestres que educam os seus filhos... Que som a maioria.
Logo veu o 29-S, "eu nom vou a greve que os sindicatos som todos umha merda". Nom tu fica na casa, trabalha mais e cobra menos, ou directamente nom cobres. Tu alimenta a tua idiócia tragando com todo o que a TV che diga, que essa sim que defende os teus interesses. Em vez de olhar-se em Europa e exercer na rua de cidadaos, com ou sem sindicatos, opta-se por umha estratégia bem "espanhola": a culpa é do cha-ca-cha. Os funcionários devolvêrom o despreço e dos controladores nom soubemos entom nada.
E por fim os controladores que como cobram muitíssimo (mais esse muitíssimo é num 80% das horas extras) que lhes deam também, o importante som as férias e declaraçons tam afortunadas como aquela mulher que berrava no aeroporto "el que no acude a su puesto de trabajo, a la calle". Nom se repara nas jornadas laborais de escándalo que realizam, nem na sua missom que nom é precisamente de pouca responsabilidade, nem na privatizaçom de AENA, nem do acontecido em fevereiro onde o convénio colectivo se revisa unilateralmente... Suspeito que o barulho dos controladores se aproveitou para mandar um recado aos sindicatos e para começar a limitar o molesto direito à greve, sempre que esta nom seja um paseio ritual para acabar tomando um café nalgum bar que esteja aberto. Mas bom, é-che o que há. Uns trabalhadores cuspem na cara dos outros e o governo por enquanto ataca os segmentos mais desfavorecidos e que requerem a nossa atençom mais que Wikileaks e os controladores. Os inmigos acho que som outros. Agora na Galiza bem a greve geral na universidade que veremos em que dá, mas que nem de longe atingirá as dimensons que tenhem movimentos assembleares na Europa... algo haverá que apreender deles digo eu.
Mas o objecto destas dicas é fazer umha breve radiografia da evangelhizaçom da sociedade galega, que cada vez mais dá mais razom ao versículo bíblico que escreveu algum antepassado de Milton Freedman e Hayek: "ao que tem dará-se-lhe e ao que nom tem tirará-se-lhe até o pouco que tem". Actualmente 40% dos desempregados do Reino de Espanha vivem em fogares onde ninguém trabalha, quase 300.000 trabalhadores galegos vivem na pobreza - segundo dados que facilita a própria Fazenda -. Na Galiza há, hoje provabelmente mais porque os dados som de 2009, 290.442 trabalhadores (o 26'5%) que recebem menos do Ordenado mínimo interprofissional (728 euros/mês), esse que na Irlanda foi reduzido a um euro por hora trabalhada seguindo as divinas receitas do FMI. Em 2008 25% da força de trabalho era pobre, enquanto em 2009 já era o 26'5%. No entanto, os grandes capitais e as grandes empresas nom deixárom de fazer caixa e os mesmos que fôrom resgatados com fundos públicos querem agora dar-nos liçons e conselhos de governança. Já nem imos falar das caixas galegas, onde, afinal, o Beiras e o Vence tinham razom quando falavam da bancarizaçom ainda que algum falara despectivamente dos "altermundialistas".
As mulheres, como de costume, levam a pior parte nesses 5'6 milhons de trabalhadores que no Reino de Espanha recebem menos de 729€ ao mês. Levam também a pior parte do nosso terceiro mundo, esse meio milhom de pessoas que vive na Galiza no umbral da pobreza, conseqüência do maravilhoso sistema económico em quê vivemos Esse meio milhom que tem de aturar obscenidades como que "hemos vivido por encima de nuestras posibilidades" ou "hay que trabajar más y cobrar menos" por boca de deliqüêntes tam eloqüentes como o Fernández Ordóñez ou Díaz Ferrán. Na Galiza, aliás, eram em 2009 165.000 os desempregados dos que 35.000 nom recebia nengumha prestaçom, com os recortes do governo neofilipista Salgado-Rubalcaba a partir de fevereiro esta cifra disparará-se, enquanto nada se fai por mudar de modelo económico. Outra obscenidade que na Galiza agrava a aussência de governo e oposiçom na Junta.
Dizia Fossaert em O futuro do socialismo algo que devemos ter bem presente agora que enfrontamos a nossa III Assembleia Nacional: "Falta gravemente em quase todos os partidos socialistas europeus, incluindo os que usavam há pouco, ou ainda usam, o rótulo comunista: as mulheres e os homens, nomeadamente os jovens, que venhem dos meios mais desfavorecidos da sociedade, desempregados, imigrados, gente dos subúrbios e todos os equivalentes. Um partido socialista que nom trabalhar para penetrar e para organizar as massas mais desfavorecidas, que for mais desdenhoso do que inventivo a respeito das empresas de inserçom dos despojados, um partido destes nom merece o nome que tem. Mais, deixa campo livre aos populismos e aos fascismos que florescem facilmente com a miséria, quando há capitalistas que desejam muscular qualquer milícia ou mesmo, em situaçom menos tensa, quando há charlatans que se apresentam sozinhos perante este povo miséravel".
As eleiçons recentes celebradas em Catalunya dam boa conta do que Fossaert di, a crescente intençom de voto ao partido PP da Galiza, quando desde há praticamente dez anos só 2% dos fogares galegos chega a fim de mês com facilidade, também fala por sim soa da excelente oposiçom do PSOE e do BNG na cámara galega e da falta dumha alternativa clara ao projecto ultraliberal que segue avante com a sua já crónica doutrina do shock, em acertadíssima expresom de Naomi Kleim.
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